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Os democratas leais e semileais – Análise

De acordo com Lins, os democratas leais devem respeitar o resultado das eleições livres e limpas

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No livro “Como salvar a democracia”, os cientistas políticos norte-americanos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, também autores do best-seller “Como as democracias morrem”, apresentam dois importantes conceitos cunhados pelo cientista político espanhol Juan Lins: os democratas leais e semileais.

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Foto: Freepik

Lins caracteriza os democratas leais como:

1) aqueles que condenam publicamente o comportamento antidemocrático e agem para responsabilizar os culpados por ações autoritárias, ainda que essas figuras sejam aliadas ideológicos;

2) expulsam as lideranças autoritárias de seus partidos; e

3) trabalham com forças pró-democracia de todo o espectro ideológico para isolar e derrotar extremistas antidemocráticos.

Ainda, de acordo com Lins, os democratas leais devem respeitar o resultado das eleições livres e limpas – ganhando ou perdendo – rejeitar a violência como meio de alcançar objetivos políticos, e tem a obrigação de romper com forças antidemocráticas.

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Foto: Freepik

Por outro lado, os democratas semileais, segundo Lins, ao invés de romperem laços com lideranças autoritárias, optam por tolerá-los. Além disso, fazem acordos e, discretamente, colaboram com essas lideranças antidemocráticas, ao invés de repudiá-las.

Democratas semileais

O comportamento democrata semileal é marcado pela minimização, aceitação do comportamento autoritário ou pelo silêncio. Os democratas semileais também se recusam a trabalhar com rivais ideológicos para isolar os autoritários, mesmo que a democracia esteja em risco.

Segundo Levitsky e Ziblatt, as democracias enfrentam dificuldades quando partidos ou políticos tradicionais toleram, protegem e possibilitam a ação violenta ou antidemocrática dos líderes políticos extremistas.

Levistsky e Ziblatt destacam que figuras autoritárias agem à vista de todos. No entanto, sozinhos, não dispõem de apoio popular para destruir a democracia. Entretanto, com o apoio dos democratas semileais, que agem nos bastidores do poder, os autoritários se transformam em líderes perigosos.

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Foto: Justin Lane/ EFE-EPA

Os semileais, embora transpareçam não serem uma ameaça, pois, muitos deles são líderes políticos respeitáveis que não participam diretamente de qualquer ataque violento à democracia, acabam fortalecendo os extremistas e, consequentemente, colaborando para o colapso da democracia.

Espectro ideológico

Cabe, assim, aos democratas leais somarem forças com partidos pró-democráticos rivais para isolar e derrotar extremistas antidemocráticos. No entanto, Levistsky e Ziblatt frisam que essa construção política não é fácil, pois significa temporariamente deixar num plano secundário princípios e objetivos políticos que lhes são caros para trabalhar com lideranças de outro espectro ideológico. Entretanto, quando essa construção política se viabiliza, os líderes antidemocráticos acabam isolados e seu ímpeto conspiratório da democracia contido.

Nos últimos anos, temos assistido no Brasil, como consequência da crise da democracia, o avanço de lideranças autoritárias. Embora líderes com esse perfil estejam localizados tanto no campo da esquerda como na direita no espectro ideológico, quem tem adotado uma postura antiestablishment tem sido à direita.

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Foto: Edílson Rodrigues/Agência Senado

Evidente que não podemos generalizar, afinal de contas, o campo de direita não pode ser resumido apenas a líderes como características autoritárias. Porém, desde a Operação Lava Jato, a política brasileira vive uma radicalização à direita que culminou na emergência de forças antidemocráticas com apelo popular.

Maiorias democráticas

A esquerda, por outro lado, também tem contribuído para este cenário de radicalização. Embora muito se fale sobre a importância de se constituir uma Frente Ampla em defesa da democracia, isso tem ocorrido mais do ponto de vista narrativo. Por ora, as composições políticas mais amplas têm se restringido do calendário eleitoral, não representado construções de novas maiorias democráticas de longo prazo.

Outro aspecto a ser considerado no cenário brasileiro é que, embora as lideranças autoritárias não sejam maioria em termos quantitativos, elas têm demonstrado apelo popular. Além disso, enraizamento social e capacidade de pautar a opinião pública.

De outro lado, os democratas leais, utilizando a definição de Lins, embora sejam maioria em nosso país, estão hoje desmobilizados, restringindo sua atuação a composições de cúpulas. Como consequência, as forças antiestablishment continuam pressionando o sistema político de fora para dentro e provocando tensionamentos.

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