Mantida a atual tendência revelada pelas pesquisas de intenção de voto para prefeito nas capitais, o PT, além de não conquistar nenhum grande colégio eleitoral, deverá ser superado por outras legendas de esquerda.
Até agora, o melhor desempenho petista está localizado em Vitória, onde João Coser divide a liderança da disputa com Fabrício Gandini (Cidadania). Mesmo que o PT possa chegar ao segundo turno em Recife, com Marília Arraes, e talvez no Rio de Janeiro, com Benedita da Silva, nas demais capitais o partido mostra baixa densidade eleitoral.
Em meio ao enfraquecimento do PT nas capitais, o que já havia ocorrido em 2016, quando o partido venceu apenas em Rio Branco, com o então prefeito Marcus Alexandre, outras legendas de esquerda ganham espaço.
Em Porto Alegre, quem lidera a disputa é a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). Apesar de o PT apoiar Manuela, a presença petista na campanha tem sido tímida na capital gaúcha. O PDT, por sua vez, é o favorito em Aracaju, através do prefeito Edvaldo Nogueira. O PSB poderá conquistar Recife, por meio do deputado federal João Campos, e o PSOL é o favorito em Belém, com o ex-prefeito Edmilson Rodrigues.
Outro aspecto a ser observado – e que reforça a tese de desgaste do PT – é o fato de o partido ser superado por outras legendas de esquerda nas três maiores capitais do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Em São Paulo, o candidato de esquerda mais bem posicionado é Guilherme Boulos (PSOL), que aparece com 12% das intenções de voto, mais que o dobro do representante do PT, Jilmar Tatto, que registra apenas 4%. No Rio, Martha Rocha (PDT), apoiada pelo PSB, tem potencial de crescimento maior, ainda que esteja tecnicamente empatada com Benedita da Silva (PT). E a tendência é que o PDT termine a eleição à frente do PT.
Em Belo Horizonte, Áurea Carolina (PSOL) tem 4% das intenções de voto, registrando um desempenho superior ao de Nilmário Miranda (PT), que aparece com apenas 1%. Caso esses resultados se confirmem nas urnas, o protagonismo do PT no campo progressista ficará ainda mais ameaçado. Além do desgaste enfrentado pela sigla, há dificuldade do PT em renovar suas lideranças.
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Embora Fernando Haddad tenha concorrido em 2018 ao Palácio do Planalto e Marília Arraes, e os governadores Rui Costa (PT-BA) e Camilo Santana (PT-CE) sejam nomes da nova geração, quem continua dando as cartas na legenda é o ex-presidente Lula, que, apesar de seu prestígio, dificilmente terá condições de sair candidato em 2022.
Nesse cenário, ganham espaço os chamados “herdeiros do lulismo”. Vale recordar que no ato político realizado por Lula na cidade paulista de São Bernardo do Campo após sair da prisão, em Curitiba, Haddad, Manuela e Boulos tiveram grande destaque.
Ainda que Haddad seja uma liderança contestada internamente, é um dos presidenciáveis para 2022. Manuela D’Ávila tem chances de se eleger em Porto Alegre. Guilherme Boulos, mesmo que não chegue ao segundo turno em São Paulo, sairá das urnas fortalecido e como uma das novas lideranças da esquerda.
Outro nome expressivo é o do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), cuja gestão tem sido bem avaliada. Dino desponta como um potencial candidato ao Planalto em 2022. Aliás, vale lembrar que Dino é um nome cobiçado por outras legendas de esquerda. Além do PSB, o próprio PT já chegou a especular a possibilidade de o governador maranhense trocar de legenda. Por enquanto são apenas especulações. No entanto, tais rumores sugerem que ele está no jogo presidencial de 2022.
O problema das esquerdas para o futuro é que, ao mesmo tempo que o PT está desgastado, dificilmente outras legendas desse campo têm estrutura política para sustentar uma campanha presidencial sem o apoio petista.
Embora o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que hoje seria o candidato da aliança PDT/PSB, seja nacionalmente mais conhecido que Flávio Dino, é também mais desgastado. Dependendo do resultado das eleições municipais, novamente voltará para a agenda o debate em torno da possibilidade de construção de uma “frente de esquerda”.
Porém, no curto prazo, essa composição de forças progressistas tende a continuar somando obstáculos. Isso porque, enquanto o PT deseja manter seu protagonismo, PDT/PSB, PCdoB e PSOL continuarão se movimentando de olho nessa transição de gerações nas esquerdas.
Com partidos de esquerda alternativos ao PT crescendo, os petistas perdendo espaço e estando em curso uma transição geracional, a hegemonia petista nesse campo pode estar em xeque.
*Análise Arko – Esta coluna é dedicada a notas de análise do cenário político produzidas por especialistas da Arko Advice. Tanto as avaliações como as informações exclusivas são enviadas primeiro aos assinantes. www.arkoadvice.com.br