A invasão do Capitólio por manifestantes pró-Trump na tarde de quarta-feira (7) repercutiu entre políticos e juristas brasileiros, mas foi encarada de forma diferente entre representantes dos três poderes. Enquanto nomes do Judiciário, partidos políticos e parlamentares se pronunciaram quase sempre em repúdio à invasão, o Executivo vem se portando de forma a validar o movimento que questiona os resultados eleitorais.
Em uma fala a apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que a situação pode se repetir no Brasil. “Se nós não tivermos o voto impresso em 2022, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter um problema pior que os Estados Unidos”, declarou. Além de dificultar a relação de Bolsonaro com o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, a fala repercutiu negativamente inclusive entre aliados do presidente.
Mais tarde, pelas redes sociais, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, apesar de dizer “lamentar e condenar a invasão da sede do Congresso”, também saiu em defesa dos manifestantes, dizendo que “há que reconhecer que grande parte do povo americano se sente agredida e traída por sua classe política e desconfia do processo eleitoral”.
– Há que distinguir “processo eleitoral” e “democracia”. Duvidar da idoneidade de um processo eleitoral NÃO significa rejeitar a democracia. Ao contrário, uma democracia saudável requer, como condição essencial, a confiança da população na idoneidade do processo eleitoral.
— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) January 7, 2021
As reações mais fortes ao ocorrido nos EUA e às declarações do governo brasileiro vieram do Legislativo. Em publicação no Twitter, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que “a frase do presidente Bolsonaro é um ataque direto e gravíssimo ao TSE e seus juízes. Os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique”.
A frase do presidente Bolsonaro é um ataque direto e gravíssimo ao TSE e seus juízes. Os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique. Bolsonaro consegue superar os delírios e os devaneios de Trump. https://t.co/HJm6WGeSaA
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) January 7, 2021
Foi o que fizeram os parlamentares do PT, que entraram com duas representações: uma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e outra na Procuradoria-Geral da República (PGR). A alegação é que Bolsonaro faz “acusações sem provas ao sistema eleitoral brasileiro e ameaças à democracia do País”.
Já no Senado, o presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP) decidiu direcionar suas críticas à realidade norte-americana e poupou Jair Bolsonaro, de quem vem recebendo declarações de apoio.
As imagens da invasão aoCongresso americano,em uma tentativa clara de insurreição e de desprezo ao resultado das eleições por parte de um grupo,são inaceitáveis em qualquer democracia e merecem o repúdio e a desaprovação de todos os líderes com espírito público e responsabilidade
— Davi Alcolumbre (@davialcolumbre) January 6, 2021
O PSL, partido que abrigou Bolsonaro até o final de 2019, também emitiu nota de repúdio contra o movimento pró-Trump, que questiona a validade das eleições. “Em uma democracia, não existe nada mais sagrado e soberano do que a vontade popular, expressa por intermédio do voto”, diz a nota. “O PSL tem compromisso com a liberdade, mas também com o Estado de Direito. Por isso, uniu-se a um bloco de partidos que luta por uma Câmara independente, livre e democrática”, pontua.
Judiciário
A invasão ao Capitólio também motivou declarações dos membros do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Luís Roberto Barroso, nas redes sociais, classificou a invasão como uma “ameaça à democracia”. Disse também que “pessoas de bem, independentemente de ideologia, não apoiam a barbárie”.
No triste episódio nos EUA, apoiadores do fascismo mostraram sua verdadeira face: antidemocrática e truculenta. Pessoas de bem, independentemente de ideologia, não apóiam a barbárie. Espero que a sociedade e as instituições americanas reajam com vigor a essa ameaça à democracia.
— Luís Roberto Barroso (@LRobertoBarroso) January 6, 2021
O ministro do STF, Gilmar Mendes, ao tratar do assunto, destacou que “notícias falsas e milícias digitais não apenas corroem a democracia: elas colocam em risco a vida humana”.
A invasão do Capitólio norte-americano revela as graves consequências do sectarismo político odioso. O episódio reforça a importância de uma Justiça Eleitoral altiva. Notícias falsas e milícias digitais não apenas corroem a democracia: elas colocam em risco a vida humana.
— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) January 7, 2021
Confira outras declarações sobre o caso:
Lamentável o que ocorreu nos EEUU. Houve um grave atentado à democracia. O pr Trump não reagiu à altura. Suas palavras dúbias, pondo em dúvida as eleições são inaceitáveis para todos os democratas do mundo. Minha repulsa total às tentativas de ganhar a qualquer preço.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) January 7, 2021
“Se nós não tivermos o voto impresso em 2022, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos” – Bolsonaro.
O presidente anuncia um golpe. O que dirão e, principalmente, o que farão as Instituições?
— João Amoêdo (@joaodamoedo) January 7, 2021
“A minha eleição foi fraudada”, diz Bolsonaro.
Como pode? O cara ganhou a eleição, mas insiste q/ foi uma fraude?!
Eu já ando me perguntando ultimamente: é possível mesmo tantos brasileiros terem votado e acreditado nessa criatura?!https://t.co/b3LARzsHnW— Perpétua Almeida? (@perpetua_acre) January 7, 2021
Não adianta democratas e "instituições" ficarem o tempo todo rebatendo barbaridades ditas ou feitas por Bolsonaro. É preciso parar o carro desse maluco, pedidos de impeachment se amontoam. Além de incompetente, ele faz mal ao Brasil e fragiliza democracia https://t.co/agzZALIsYG
— Zarattini (@CarlosZarattini) January 7, 2021
Golpe anunciado. O presidente do Brasil, Bolsonaro, adverte que vai acontecer o mesmo que nos EUA, se o voto, em 2022, não for impresso. Ameaça com um golpe de Estado caso o modelo de controle de voto não seja adotado para favorecê-lo. Trump e Bolsonaro desprezam a democracia.
— Enio Verri (@enioverri) January 7, 2021
As ameaças de Bolsonaro continuam, agora reforçadas pelo péssimo exemplo de Trump. Precisamos preservar a democracia brasileira para impedir que esse projeto de barbárie prossiga.
— Alessandro Molon ?? (@alessandromolon) January 7, 2021