Com os combustíveis em alta, o mercado financeiro aumentou a atenção a possíveis interferências do governo sobre a Petrobras. O foco da tensão é o presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, principalmente depois que o presidente da República, Jair Bolsonaro, passou a deixar claro a insatisfação com o aumento. Na sexta-feira ao ser questionado se Silva e Luna poderia ser trocado, Bolsonaro respondeu que “todo mundo tem possibilidade de ser trocado, exceto o vice-presidente e o presidente da República”. Depois, negou que a fala seria um indicativo de substituição.
Nesta segunda-feira (14), o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, tentou diminuir a temperatura. “Silva e Luna é resiliente, sempre foi. Como bom nordestino, aguenta pressão”, declarou.
O reajuste anunciado na última semana elevou em R$ 0,90 o preço do diesel e em R$ 0,60 o preço da gasolina. O gás liquefeito de petróleo (GLP) também teve reajuste de R$ 0,62 por kg.
Nas páginas institucionais da Petrobras, a empresa tentou justificar os aumentos. “O lucro da Petrobras pode parecer muito alto, mas, na verdade, é compatível com o tamanho do investimento”, argumenta, em resposta às críticas de que a empresa estaria lucrando acima do padrão, em meio à crise.
E ainda tenta distribuir a responsabilidade sobre o preço. “Aqui não existe monopólio e outras empresas, assim como a Petrobras, também produzem e importam combustíveis”, diz o vídeo.
Impacto eleitoral
Além do impacto no bolso do brasileiro, a alta no preço dos combustíveis também deve ter importância no debate eleitoral. Os dois principais candidatos já tentam capitalizar o tema contra os oponentes.
Em live na última quinta-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro jogou a culpa pelos preços no colo do PT. Disse que a dependência brasileira do combustível importado deve-se a obras de refinarias inacabadas. “Se lá atrás o PT tivesse feito o seu trabalho, não tivesse endividado a Petrobras em mais de 900 milhões, não estaríamos em uma situação tão complicada”, declarou.
Já o ex-presidente Lula publicou vídeo nas redes sociais colocando a responsabilidade pelo preço da gasolina e do diesel sobre a privatização da BR Distribuidora. O processo ocorreu durante a gestão Bolsonaro, entre 2019 e 2021.
O valor do diesel e da gasolina já subsidia debates em que os preços praticados no governo Bolsonaro são comparados com os preços que existiam em governos anteriores. Se para o cidadão comum, o tema já gera desgaste, Bolsonaro sai perdendo ainda mais em outro grupo de apoio: os caminhoneiros. Motoristas autônomos vem de uma longa trajetória de perda de confiança no presidente que desemboca em ameaças de greve de paralisações.
Atento ao possível impacto eleitoral da pauta dos combustíveis, Bolsonaro declarou, no fim de semana, estar avaliando um subsídio para o preço dos combustíveis. Pontuou, contudo, que a decisão depende de aval do ministro da Economia, Paulo Guedes.