Nem chegamos a superar a pandemia de Covid-19 e uma nova preocupação global toma conta do nosso dia a dia. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem elementos que podem escalar para um quadro altamente catastrófico para a humanidade. O presidente russo Vladimir Putin, numa tentativa de conter qualquer reação mais contundente da Europa e dos Estados Unidos, determinou que o comando de seu país colocasse em situação de alerta grave as armas nucleares. Após uma conversa com Putin, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que o pior está por vir.
No Brasil, desde a invasão da Ucrânia, ocorrida em 24 de fevereiro, as únicas “boas notícias” de curto prazo foram a queda do dólar e o aumento dos investimentos estrangeiros nos primeiros dias do conflito. Mas o fato é que os problemas e os prejuízos que vêm com a guerra, além das questões humanitárias, obviamente, são muito maiores. Nem mesmo esse “ganho” inicial para o Brasil pode ser considerado sustentável.
Em primeiro lugar, a guerra tende a aumentar a inflação global, em especial em relação aos alimentos. Os mais pobres, naturalmente, acabam sendo os mais afetados. Mais uma vez. A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo.
A Ucrânia está entre os dez mais. Importamos 60% do trigo que é consumido aqui. O conflito tende a aumentar a inflação global, em especial em relação aos alimentos. Os mais pobres, naturalmente, acabam sendo os mais afetados.
O preço do barril de petróleo já passou dos US$ 100, podendo chegar a US$ 150. A alta dos combustíveis já é uma preocupação nacional desde a greve de caminhoneiros em 2018, que atingiu severamente o nosso PIB. A greve retirou 1,2 pontos percentuais do PIB naquele ano, quando nossa economia cresceu apenas 1,1%.
A dependência do fertilizante russo é outro problema e pode afetar nosso agronegócio. Vale dizer que em 2021 o PIB da agropecuária caiu 0,2%, na comparação com 2020. De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o estoque de fertilizantes só deve durar até junho. Por conta disso, o governo atua em três direções para garantir fornecimento: negociando com países produtores de fertilizantes para maximizar a importação, de modo a compensar os insumos que deixaram de vir da Rússia; fazendo campanha educativa para melhorar o aproveitamento dos fertilizantes importados; facilitando a importação dos fertilizantes.
Dependendo do tempo de duração do conflito, muitas das suas consequências para o Brasil serão abordadas ao longo da campanha eleitoral à Presidência, como inflação, emprego, combustíveis e política externa. O que pode reforçar o peso da economia no processo eleitoral.