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Delírios cinematográficos – Análise

O surreal roteiro do Planalto em torno de um golpe de Estado

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O argentino Ricardo Darín protagoniza um filme pouco conhecido por aqui, mas que tem relativo destaque em sua carreira: Delirium, de 2014. A trama tem início com a invasão de Buenos Aires por tropas americanas e, a partir daí, é narrada a causa do ataque. Trata-se de uma crítica bem-humorada à política argentina, que há muito vive em estado comatoso. No enredo, sur­real, três jovens sem perspectiva acreditam que podem ficar milionários fazendo um filme com poucos recursos. E convencem Ricardo Darín, que faz o papel dele mesmo, a estrelar a produção, que termina em uma enorme confusão política após o seu desaparecimento.

golpe de estado

Bolsonaro – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

No Brasil, não tivemos um filme, mas sim um delírio “planaltino” real, numa reunião ministerial em Brasília documentada pelo tenente-coronel Mauro Cid em 5 de julho de 2022. A gravação nos lembra outro filme icônico, Dr. Strangelove, aqui intitulado Dr. Fantástico, com o inesquecível Peter Sellers e dirigido por Stanley Kubrick. O filme narra o que acontece quando um general americano insano ordena um ataque nuclear contra a União Soviética, desencadeando uma série de eventos que levam ao iminente fim do mundo.

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A cena da reunião presidencial em Dr. Strangelove é uma das mais memoráveis do filme. O ambiente na sala é tenso e frenético, com todos os participantes cientes das consequências potencialmente catastróficas da situação. O filme é frequentemente referenciado por sua representação de processos de tomada de decisão falhos, especialmente em situações de alto risco. Os personagens do filme tomam decisões que aumentam as tensões e levam a resultados catastróficos.

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No Brasil, a gravação da reunião de 5 de julho de 2022 revela uma pararrealidade em que fatos e ficção se misturam costurados por narrativas delirantes em torno de um golpe de Estado. Com a agravante, porém, de que realmente foi realizada e de que as intenções ali debatidas acabaram não se concretizando somente porque alguns “cagões” tiveram a coragem cívica de não embarcar em uma aventura golpista.

Golpe de Estado

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O delírio “planaltino” nos deixa algumas certezas. A primeira é de que houve a intenção de promover uma virada de mesa. A segunda é de que não houve “colhões” nem liderança para tal. A terceira constatação é de que as Forças Armadas, como instituição, não queriam o “golpe”. A quarta constatação é de que no Brasil existem instituições que funcionam e que têm noção de sua responsabilidade perante a Constituição de 1988.

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O ex-presidente Jair Bolsonaro poderia ter ganhado as eleições de 2022 dentro das quatro linhas se tivesse tido discernimento político. Terminou capturado pelos seus fantasmas e foi o maior causador de sua derrota. Ao final, a narrativa golpista não se realizou. Contudo, os acontecimentos posteriores às eleições, como o vandalismo em Brasília no dia da diplomação dos eleitos, a tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília e as invasões aos palácios na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro, atestam que houve mais do que bravatas.

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