Novos políticos, movimentos suprapartidários e as esperanças para 2018


Alguns eventos me fazem ter esperança para a política em 2018. Falo do crescimento de movimentos suprapartidários, que são capazes de promover conexões em rede, para além das siglas partidárias, entre os novos aspirantes políticos.

Em meio a desfiguração da reforma política no Congresso Nacional, eles ganham espaço. Basta ver as manchetes dos principais jornais e os posts nas redes sociais, nos trending topics.

Boa parte destes grupos foi criado recentemente, estão se espalhados pelo Brasil e surgem com a proposta de revigorar o sistema político brasileiro, com práticas éticas, transparentes e que não ofendam o interesse público. Ou seja, a ideia é capacitar cidadãos a agir politicamente com práticas mais limpas e honestas.

Segundo o colunista Igor Gielow, da Folha de S. Paulo, aspectos característicos destes grupos são que eles geralmente possuem no máximo 100 membros, contam com apoio empresarial e pouco, ou nenhum, suporte partidário.

O posterior ingresso na política partidária, evento obrigatório na vida de um postulante a qualquer cargo político, é decisão pessoal de cada membro. Entretanto, por óbvio, existe o incentivo a participação em partidos que não estejam implicados em inquéritos na Operação Lava-Jato ou semelhantes – entre as grandes siglas, poucas escapam, infelizmente.

Quais são esses movimentos?

Ao todo, esta coluna considera que existem cinco iniciativas relevantes inseridas nesse contexto. São elas: Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), Brasil 21, Movimento Acredito, Bancada Ativista e Agora!.

A RAPS atua promovendo capacitação e aperfeiçoamento àqueles que pretendem ingressar na carreira política. Age também auxiliando na construção de empreendimentos cívicos, cujos objetivos sejam fomentar novas lideranças políticas e fortalecer as instituições republicanas – como é o caso do Brasil 21.

Este projeto define-se como movimento político, social e cultural com propósito de transformar o país por meio da renovação política, centrada na participação ativa dos cidadãos através da construção de uma plataforma comum de governança, que seja “justa, sustentável e progressista”.

No caso do Movimento Acredito e da Bancada Ativista, visam dar apoio e visibilidade à candidatura de novos políticos, que possuam valores éticos e sentimento de dever cívico. Por último, o movimento Agora!, tem como linha de ação estar direcionado a atualizar as ações políticas no Brasil, despolarizando o debate fomentando conexões entre os cidadãos, com a finalidade de garantir maior efetividade às políticas públicas.

Eles possuem potencial para crescer em meio ao caos político brasileiro?

Recentemente, pesquisa publicada pela Fundação Perseu Abramo dominou as manchetes políticas. A Fundação, vinculada ao Partido dos Trabalhadores (PT), fez levantamento sobre as percepções político-sociais da periferia de São Paulo.

Uma das justificativas para a pesquisa era entender o que havia mudado no posicionamento político dos moradores da periferia para que votassem majoritariamente em João Dória (PSDB-SP), na última eleição municipal.

Os resultados atestam que existe, entre os eleitores da periferia, maior assimilação de valores liberais voltados para o individualismo e a competividade de mercado. Concomitantemente, os eleitores da periferia têm deixado de acreditar no Estado, sobretudo sua classe política, como propulsor do desenvolvimento socioeconômico, passando a compreendê-lo como inibidor do desenvolvimento nacional e incapaz de entregar serviços e bens públicos condizentes com os impostos pagos pela sociedade.

Para além das discussões sobre qual partido/candidato pode vir a se beneficiar nas eleições de 2018, é válido ressaltar que a desconfiada dos cidadãos para com a classe política, como visto na pesquisa supracitada e em ações pró Operação Lava-Jato espalhadas pelo país, tem garantido maior destaque à luta dos cidadãos de todas as classes contra a classe política vigente, que domina o aparelho do Estado e é responsável por torná-lo menos eficiente, transparente e competitivo.

Precisamos canalizar essa onda de revolta e indignação em prol do fortalecimento de projetos suprapartidários de renovação política. É a melhor alternativa que temos para engajarmos a sociedade em ações políticas, dado o nível de insatisfação e repulsa pelo quadro atual. Talvez seja essa nossa única chance de higienizarmos o sistema em 2018.

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