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Historicamente, mudança de presidentes não altera comércio exterior do Brasil

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Com a vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, investidores brasileiros têm demonstrado preocupação sobre como a mudança da relação diplomática entre os dois países pode influenciar o mercado. Isso porque, nos últimos dois anos, o alinhamento ideológico entre o presidente Jair Bolsonaro e Donald Trump era visto com um sinal de que acordos poderiam ser viabilizados.

A mudança de liderança tem potencial de alterar a forma que os dois países se relacionam em assuntos ambientais, como já foi sinalizado por Biden, ao dizer o Brasil sofreria sanções caso não freasse o desmatamento. Contudo, o histórico recente de mudanças de poder nos dois países mostra que as eleições não conseguem mudar profundamente as relações comerciais.

Isso acontece porque a relação internacional depende de diversas instituições, não só da presidência da República.

Histórico recente

Um exemplo é a relação entre Brasil e China após a ascensão de Bolsonaro. Apesar do discurso duro e das críticas, nem durante a pandemia a relação comercial esfriou.

A exportação de petróleo bruto passou de 2,96 milhões de toneladas em setembro do ano passado para 4,49 milhões de toneladas em setembro de 2020. Com isso, o Brasil passou a ser o terceiro maior fornecedor do produto para a China. Os dados são da Administração Geral de Alfândega da China. De acordo com a Petrobras, o país foi destino de 70% de todo petróleo exportado em julho.

Na verdade, o conflito entre Estados Unidos e China, associado à alta do dólar por aqui, acabou impulsionando as vendas brasileiras de arroz e soja para o país asiático.

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A proximidade entre Bolsonaro e Trump também não evitou que o governo Trump diminuísse a importação do aço brasileiro. A redução foi de 25% entre janeiro e setembro de 2020.

“A relação entre EUA e Brasil é muito sólida, independente de quem estiver a frente. Os principais acordos que foram firmados entre os dois países envolveram presidentes republicanos, democratas, tucanos, petistas e, recentemente, também Bolsonaro. Isso não altera o interesse entre os dois países”, avalia Thiago de Aragão, diretor de Estratégia da Arko Advice e mestre em relações internacionais pela universidade Johns Hopkins, na live semanal Política Brasileira.

De acordo com Thiago, a relação entre os dois países tem sido construída por décadas e, além de funcionar de forma independente em cada setor, as relações comerciais dependem da avaliação técnica de diversos órgãos.

Instituições técnicas

“Mesmo que Bolsonaro e Biden mantenham uma relação fria, o secretário de comércio exterior dos EUA continua tendo uma relação direta com a Camex (Câmara de Comércio Exterior do Brasil). O secretário dos EUA responsável pelas telecomunicações continua tendo contato com a Anatel. São relações que se baseiam em uma tecnicidade. É uma relação construída em 50 a 60 anos de relações – algo que o Brasil não tem com a França, por exemplo”, avalia.

Por outro lado, relações que tinham problemas devem continuar tendo problemas. A relação da Marinha Brasileira com os EUA enfrenta um atrito histórico porque, a força lidera as pesquisas na tecnologia nuclear brasileira. “Os EUA barram a venda de equipamentos que podem monitorar o funcionamento de certas centrífugas do programa nuclear”, explica Aragão.

Portanto, para o analista, é improvável que a vitória de Biden acabe por retirar investimentos do Brasil. “A própria BlackRock (maior gestora de investimentos do mundo) anunciou foco especial no Brasil, algumas semanas antes de se concluir a eleição americana, mesmo com as pesquisas indicando uma possível vitória de Biden”, exemplifica.

Por outro lado, decisões internas podem continuar influenciando a relação do Brasil com os EUA e atrair ou afastar investimentos – é o caso das reformas que tramitam no Congresso e as medidas que podem aumentar a credibilidade fiscal do Brasil.

 

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