Desde o começo da pandemia, de tempos em tempos surgem novas faíscas provenientes do antagonismo entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. No episódio mais recente, protagonizado por Guedes em sessão da Comissão Mista da Covid-19, o ministro jogou em Marinho a culpa da falta de verba em outras áreas do governo federal, especialmente na Ciência e Tecnologia.
“Sabe quem corta dinheiro da ciência e tecnologia? É o passado! Quando um ministro fala ‘eu quero mais tantos milhões para fazer uma obra’, o dinheiro é remanejado. O dinheiro é dado para fazer uma construção qualquer e é cortado da Ciência e Tecnologia. Quem corta não é o Ministro da economia, quem corta é o outro ministério gastador”, disse.
Além disso, Guedes insinuou que Marinho esteja procurando inflar sua visibilidade para conseguir votos em uma possível candidatura em 2022.
“É isso que significa o ‘mais Brasil, menos Brasília’, é menos ministro andando com saco de dinheiro e prometendo um bocado de coisa pensando na próxima eleição que o ministro vai concorrer e não no povo brasileiro”, disparou.
Bolsonaro tenta equilibrar
Atacado por Guedes, Marinho teve, por outro lado, o afago do presidente Jair Bolsonaro, que logo em seguida disparou elogios ao ministro. “Ninguém viu um ministro do Desenvolvimento Regional melhor do que Rogério Marinho, um homem que vive pelo Brasil todo, mais especial no Nordeste”, disse. A região tem sido visada por Bolsonaro, que tenta fortalecer laços com os nordestinos para criar uma base de apoio na região, que historicamente é reduto eleitoral do PT.
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No começo do mês, após uma briga entre os dois ministros, foi Guedes que recebeu o afago. “A palavra final na economia não é de uma pessoa, são de duas pessoas: eu e Paulo Guedes. Eu não tomo decisões sem ligar para o respectivo ministro”, disse Bolsonaro.
Até quando?
Apesar do atrito constante, o presidente Bolsonaro não parece disposto a abrir mão de nenhum dos dois ministros. Basta elogios aos ministros, uma reunião aqui e ali para acalmar os ânimos e o governo segue como se nada houvesse acontecido.
Apesar da história da troca de farpas entre Guedes e Marinho ser antiga, tendo surgido com a criação do programa Pró-Brasil, que previa aplicação de recursos públicos em obras de infraestrutura, o conflito se intensificou com o surgimento da ideia do programa social para suceder o auxílio emergencial – atualmente chamado de Renda Cidadã. Portanto, a briga só deve ter fim quando a política econômica do governo para o pós-crise tiver contornos mais claros. É o que avalia o cientista político da Arko Advice, Murillo de Aragão.
“Existe uma disputa ideológica dentro do governo sobre como promover a retomada econômica pós-covid. Uma linha desenvolvimentista tem o Rogério Marinho como principal expressão. A linha de austeridade fiscal e controle de gastos é obviamente defendida por Paulo Guedes. A disputa só terá fim quando se definirem as regras que vão prevalecer para viabilizar tanto o programa Renda Cidadã quanto recursos para investimento em obras de infraestrutura”, analisa.