Uma consequência da vitória do democrata Joe Biden nas eleições americanas é que o presidente Jair Bolsonaro pensa em recuar da tendência de banir a empresa chinesa Huawei do fornecimento de equipamentos para a implantação da rede 5G no Brasil.
O jornal Valor publicou em sua edição de quinta-feira que a guinada é tratada reservadamente entre assessores próximos do presidente. Tudo dependerá da postura do futuro ocupante da Casa Branca em seus primeiros meses na função. Mas os compromissos com a gestão Donald Trump terminam junto com o seu mandato.
Os primeiros meses da administração Joe Biden coincidem com o período para o qual está prevista a realização do leilão de licença para a exploração da tecnologia 5G no Brasil pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Conforme fontes oficiais, o governo entende que um eventual veto à Huawei envolveria riscos de retaliação comercial por parte da China, nosso maior importador de carne, milho e soja.
Qualquer movimento do governo chinês nesse sentido apavora o agronegócio, que apoiou a eleição de Jair Bolsonaro e é representado pela ministra Tereza Cristina na pasta da Agricultura. A ministra já alertou, em mais de uma oportunidade, sobre os efeitos danosos de uma eventual represália por parte da China.
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Além disso, restrições à empresa chinesa também gerariam insatisfação entre as atuais operadoras de telefonia. Elas têm a Huawei como supridora importante e mais barata de equipamentos. A empresa está presente no Brasil com tecnologias 2G, 3G e 4G.
Opção “verdadeiramente técnica”
No dia do primeiro turno das eleições municipais (15), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso (também presidente do Tribunal Superior Eleitoral – TSE), afirmou que o leilão do 5G precisa ser “verdadeiramente técnico”, porque “ciência e ideologia não são uma boa mistura”.
Barroso deu a declaração ao falar sobre a importância da universalização do acesso à internet, quando participava de evento em Valparaíso (GO), cidade vizinha a Brasília, sobre propostas alternativas à urna eletrônica. “Precisamos universalizar, e com qualidade, o acesso à internet. Vem aí o 5G e eu tenho a firme esperança de que se façam escolhas verdadeiramente técnicas e melhores para a população”, disse.
Cinco dias antes, o governo brasileiro havia anunciado apoio à chamada Clean Network (rede limpa), um programa dos Estados Unidos que, na prática, limita o avanço de empresas chinesas na instalação da tecnologia 5G. A adesão ocorreu no âmbito de uma parceria trilateral entre Brasil, Estados Unidos e Japão.
*Análise Arko – Esta coluna é dedicada a notas de análise do cenário político produzidas por especialistas da Arko Advice. Tanto as avaliações como as informações exclusivas são enviadas primeiro aos assinantes. www.arkoadvice.com.br