Aliados de Jair Bolsonaro recomendaram que ele fosse ao funeral da rainha Elizabeth II por esperar exposição positiva do presidente na mídia, na reta final da campanha à reeleição. Mas a sensação, entre eles, é de que o objetivo principal da viagem fracassou.
A estratégia era conquistar parte do eleitorado indeciso, com uma imagem de estadista, com uma agenda com baixíssimo potencial para causar estragos. A viagem do presidente, no entanto, foi mais ruidosa do que o esperado.
Bolsonaro foi criticado em jornais brasileiros e britânicos por transformar a viagem em uma extensão da campanha eleitoral de uma maneira nada sutil. Os ingleses reagiram mal às atitudes de Bolsonaro durante sua passagem por Londres.
O jornal britânico The Times estampou em seu site que Bolsonaro quebrou o luto para marcar pontos políticos. A presença do pastor Silas Malafaia na comitiva, sem nenhuma justificativa para tal, também causou estranheza. Se pode servir para consolidar os votos de evangélicos, avaliam aliados, ela não ajuda na tarefa de atrair o eleitor moderado.
As postagens do visual da primeira-dama, Michelle, feitas por um maquiador levado por ela ao Reino Unido, provocaram críticas negativas. Também repercutiram mal os ataques de bolsonaristas à imprensa, como no caso da repórter da BBC Brasil que foi cercada e hostilizada por apoiadores do presidente na frente da residência do embaixador brasileiro em Londres.
No discurso que fará esta terça-feira (20) na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, Bolsonaro não garantiu que fará o papel que a ala moderada do governo espera dele. Foram preparados dois discursos: um com teor mais abrangente e tratando de temas que o bolsonarismo considera de Estado, como a preservação da Amazônia, a defesa de políticas do governo contra o desmatamento na floresta, além do papel do Brasil na crise de alimentos.
No outro discurso, de tom beligerante, o presidente vai adotar o tom raivoso, retomando os ataques infundados às urnas eletrônicas e ao STF, agora em escala global diante de uma plateia mundial. A versão radical para a ONU foi encomendada pelo presidente à ala ideológica do governo, da qual participam o coronel Mauro Cesar Barbosa Cid e o assessor internacional do Palácio, Felipe Martins.