No último sábado, 8, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, deu mais uma mostra de que a estratégia de ganhar tempo no poder vai dando certo. Ao permitir que a pena de 14 anos de Leopoldo López fora convertida em prisão domiciliar, ele logrou distensionar um pouco o ambiente e as pressões. Já são mais de 100 dias ininterruptos de protestos e manifestações que cobraram a vida de quase 80 pessoas.
Preso há pouco mais de três anos, López converteu-se no principal símbolo de um regime totalitário. Sua esposa, Lilian Tintori, viajou o mundo para pressionar governo em busca de sua liberdade. Para Maduro, trata-se de um arruaceiro que prega a violência, mas que precisava ser solto para aliviar um pouco o seu lado.
A crise política venezuelana, no entanto, não dá sinais de arrefecimento. O discurso extremista daqueles que ainda defendem o regime soa como gasolina em um incêndio. Além disso, o papel exercido pelas democracias da região, mostra-se pouco articulado e coordenado quando o tema é Venezuela.
A caminho da ditadura escancarada
Quem tira proveito disso é o próprio regime na figura do seu presidente e de expoentes como Diosdado Cabello, o todo-poderoso que controla as Forças Armadas. Nem mesmo o ataque descabido do chavismo à Assembleia Nacional, com o sequestro de parlamentares e jornalistas, na semana passada, fora suficiente para que uma ação mais contundente fora adotada.
É certo que Maduro está cada vez mais isolado, mas enquanto a região e a comunidade internacional restringirem o seu papel à emissão de notas oficiais, pouco ou nada mudará. A Venezuela se converte em uma ditadura em grande medida, graças à omissão objetiva daqueles que poderiam fazer algo, como impor sanções ou abandonar contratos de compra de petróleo.
O país já está fora do MERCOSUL e da OEA. UNASUL e CELAC encontram-se esvaziadas e sem qualquer protagonismo. Os mediadores internacionais perderam credibilidade e a oposição não conseguem articular-se em torno de um projeto de Nação que inclua transição política e recuperação econômica.
A Venezuela caminha a passos largos para o abismo e o desastre total. Insisto que uma solução pacífica para o país é algo distante para não dizer inexistente. Não há indícios de que Maduro irá liberar os mais de 140 presos políticos. Nem que vá desistir de sua Assembleia Nacional Constituinte, condição impostas por alguns países para que o diálogo seja retomado.
Enquanto o silêncio obsequioso for mantido, Nicolás Maduro, mesmo isolado, vai resistindo e subindo o tom da retórica. Para ele, o que está em risco é algo muito maior que o poder. Com as milícias fortemente armadas, ele pode provocar um estrago de dimensões catastróficas. Ele sabe disso e sabe que seus opositores internos e externos também o sabem.