Corrupção e a democracia


 

O título desse artigo foi tema de reflexão nas Conversas da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, que são realizadas todas as primeiras segundas-feiras do mês no auditório Dom José Freire Falcão da Cúria Metropolitana de Brasília a poucos metros da Catedral, concebida pelo grande brasileiro Oscar Niemeyer. O evento contou com a participação de dois palestrantes: Melillo Dinis do Nacimento, advogado, Doutor em Direito e especialista no tema e Mauro Almeida Noleto, mestre em direito, professor universitário e ex-Secretário de Estado de Transparência e Controle do Distrito Federal.

No evento pelas falas dos palestrantes e durante amplo debate ficou evidente que em uma verdadeira democracia as instituições públicas devem contribuir para o bem comum, para a coletividade. Quando os recursos públicos são desviados e passam a servir interesses excludentes de indivíduos ou de grupos, tem-se a corrupção, o que se constitui em uma grande ameaça à democracia. Ficou também claro que o tema tem relevância nacional e planetária e que a corrupção é uma realidade nos regimes autoritários e nas democracias.

Como apontou Mauro a corrupção no Brasil é antiga. Já no século XVI os funcionários coloniais exportavam por conta própria especiarias, tabaco, metais e peças preciosas. Seguiu-se a traficância dos escravos, a manipulação dos contratos para obras públicas, a corrupção eleitoral do Império, o voto de cabresto da República, o “rouba mas faz”, escândalos financeiros, o “esquema PC” e tantos outros que produzem o “mar de lama”, expressão repetida durante o evento. Graças à abrangência, à instantaneidade e a liberdade dos meios de comunicação, torna-se hoje mais difícil, senão impossível, ocultar os fatos da sociedade que parece não estar disposta a aceitar a corrupção.

Melillo destacou que a corrupção passou a fazer parte do nosso cotidiano e desenvolveu o tema através de vários aforismas. Entre eles: “O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.” (Lord Acton); “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempo em tempo. (Winston Churchill); “O direito penal não consegue enfrentar a corrupção”. (Raúl Zaffaroni); “Para grandes males, grandes remédios. (José Saramago); “Na política brasileira, todos são corruptos, exceto quem não é.” (Mellilo Dinis do Nascimento). O manejo do poder e dos recursos se constituem como tentações que exige um papel de vigilância da sociedade civil. A corrupção é uma grande ameaça para a democracia brasileira. Embora sempre presente na nossa história, ela talvez jamais tenha assumido uma dimensão tão extensa e profunda. Se não conseguimos superá-la no passado temos a oportunidade de superá-la no presente para proteger o nosso futuro.

Pessoalmente penso que a corrupção é uma doença da alma como as doenças definidas como os sete pecados capitais: luxúria, gula, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça. Como todas as doenças ela não acomete a todos. Muitas pessoas não susceptíveis a ela, outras não. A corrupção é uma doença incurável. Ela deve ser combatida por exemplo como foi combatida a paralisia infantil que é também incurável. Nesse caso ela foi eliminada pela prevenção, através do desenvolvimento de uma vacina. A vacina para a corrupção é a educação. Uma educação de qualidade para todos os brasileiros. Ela além de proporcionar a alfabetização das letras e dos números e preparar para uma profissão digna, deverá exercitar o pensamento e a crítica argumentada e principalmente introduzir e consolidar as virtudes como a solidariedade e a ética. Devemos cumprir a nossa missão geracional e preparar uma nova geração onde a corrupção seja um fenômeno do passado. Nesse futuro não tão remoto teremos conquistado a utopia de uma verdadeira justiça social, onde cada brasileiro tenha a oportunidade de ser feliz. Nesse contexto é pertinente lembrar o pensamento de Anísio Teixeira: “Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a escola pública.”

 

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais