Caso Celina Leão, tratamento a la Bolt


Nunca um poder da República interveio tão rápido para resolver uma crise. Nem foi tão duro na punição de um suposto infrator. Por 10% do rigor e da velocidade com os quais o Tribunal de Justiça do Distrito Federal alvejou mortalmente a Mesa da Câmara Legislativa de Brasília, Sérgio Moro, o Supremo ou Rodrigo Janot seriam crucificados. Bolt ficaria para trás.

Há menos de uma semana, o Globo divulgou gravações feitas pela ex-vice-presidente da Câmara, deputada Liliane Roriz (PTB), que implodiram a Mesa da Casa, presidida por Celina Leão (PPS), sob a acusação de propina paga por empresas da área de Saúde no valor de R$ 30 milhões.

Diferentemente de todas as denúncias anteriores de corrupção, o TJDF dispensou intermediários. Em vez de pedir uma investigação, o tribunal simplesmente mandou “prender” a lista inteira dos envolvidos – cinco deputados e três altos funcionários locais, levados para depor sob condução coercitiva seguida de afastamento cautelar de suas funções.

Há três meses, o Supremo aplicou o mesmo remédio para tirar deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara Federal, mas sob as seguintes circunstâncias: 1) o parlamentar vinha sendo investigado há mais de um ano por meio de seis processos; 2) as provas contra ele são abundantes e a Câmara nada fez; 3) o parlamentar havia se tornado réu em ação proposta pelo procuradoria-geral da República; 4) respondia a processo de cassação.

Além disso, constrangido diante do tamanho da trombada constitucional, o STF explicou que se tratava de ato isolado, que jamais seria repetido. No entanto, criou o precedente que inspirou o desembargador Mário Machado Vieira Netto, presidente do TJDF, autor da decisão. Não pode dizer que ele fez injustiça contra Celina Leão e companhia, quem não ouviu integralmente as gravações, nem sabe se “Dormia/ A nossa pátria mãe tão distraída/ Sem perceber que era subtraída/ Em tenebrosas transações”.

As suspeitas de práticas de crimes que cercam os atos da CLDF são antigas, conhecidas da população, capazes de fazer os profissionais do petrolão que depenaram a Petrobras parecer ingênuos. Reportagem da revista Veja publicada há algum tempo carimbou a Câmara de “Casa dos Horrores”, referência à audácia de seus políticos. Mas se o Ministério Público quer trabalhar, a Polícia só tem recebido elogios e a Justiça merece fé, diante do baculejo de hoje é o caso de perguntar: “Pode isso produção”?

Há passagens confusas na maior crise política já vivida pelo Distrito Federal. A mais intrigante é o motivo que levou Liliane Roriz a renunciar à vice-presidência, se isso não altera a moral da história. A mais surpreendente é o fato de os estilhaços da granada que explodiu ali serem dirigidos – só acertaram os adversários do governador Rodrigo Rollemberg.

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