Acaba a era da intolerância. Surge uma incógnita.


Depois de treze anos ditando os rumos do País, o PT é removido do poder. Sai menor do que entrou. Pior do que um desastre econômico e social, o partido deixa como legado aos brasileiros a desesperança na política.

Ao ascender ao poder, em 2003, o partido envergava a desconfiança na sua capacidade de administrar uma das maiores economias do mundo. Não havia dúvida, no entanto, mesmo entre seus adversários, da seriedade com a qual o partido encarava a política e a ética.

Treze anos depois, o partido justifica os temores de outrora. Apegado a dogmas ultrapassados, que nortearam o fracasso de economias excessivamente intervencionistas e centralizadoras mundo afora, provocou o desemprego, a quebradeira e a carestia­ – desfazendo boa parte da transferência de renda que promovera.

Nada se compara, no entanto, à frustração com a política. Antes bastião da política exercida com seriedade, o partido surpreendeu os mais pessimistas ao sucumbir à tentação de fazer do erário extensão de seu caixa.

Autoimbuídos da missão redentora da classe operária, seus próceres golpearam a ética à exaustão. Tudo se justificava se a causa não era pequena.

Respaldados na crença congênita da esquerda de que somente ela representa os pobres e os oprimidos, seus dirigentes esfrangalharam a ética e a política. Deixaram, como resultado, o mais maldito dos legados petistas: a descrença na política como mediadora de conflitos e divergências.

Sectários, seus militantes se veem como salvadores da pátria. Todos os demais, os que não compartilham ou não se submetem aos seus dogmas, representam o mal. Dessa certeza herdada da tradição esquerdista surge a intolerância, pois, por este ponto de vista, nada de bom pode vir dos que não envergam as bandeiras sinistras.

Com uma visão essencialmente utilitarista, a sigla valeu-se das demais agremiações para se conservar no poder. Mas eis que, num processo simbiótico, assimilou práticas reprováveis.

Foi o caso do PMDB, sem o qual dificilmente teria se mantido no poder por tanto tempo. Depois do rompimento – não por ideais, mas por divergências fisiológicas -, transformou o parceiro em anátema. Na verdade, as entranhas de um são reflexo das vísceras do outro.

Empenhou-se de tal maneira em reproduzir práticas antes condenadas que chegou ao paroxismo com a Petrobras, transformada em megacaixa para a causa do proletariado. Mas, como sói fazer a esquerda quando assume o poder, caciques da sigla primeiro pinçaram seu quinhão, repartido com os neocompanheiros – grandes empreiteiros, por exemplo.

Amalgamou-se de tal forma com o que há de pior na política que se confundiu com os malfeitores de siglas aliadas – muitas delas fachadas para negócios particulares. Desfigurou-se.

Igual uma seita, inventa crendices como o golpe propagandístico. Com ele, nega a democracia e camufla seus pecados. Foge, assim, da contrição no genuflexório insubstituível do eleitor.

A retórica forjada em inverdades serve também para motivar a militância aturdida com recrudescentes denúncias de corrupção e gestão desastrosa. Esperança vã de retornar à ribalta como vestal.

Temer assume o leme

Como na política não há vacância, dos escombros do lulopetismo rebrota o PMDB. Indissociável do poder, o partido escancara como nunca sua sanha governista – desta vez sem intermediários.

Em 1985, José Sarney herdou o comando da Nação em consequência da morte de Tancredo Neves (PMDB). Nos estertores dos anos de chumbo, quando os militares ainda pairavam como ameaça sobre o Parlamento, o Brasil viveu grave momento de incerteza, já que ninguém, nem Sarney, havia se preparado para aquele desfecho.

Há muito os militares voltaram à caserna, mas as dúvidas sobre o futuro voltam a crispar nuvens no horizonte. Tirante o fato de que muito se empenhou para assumir o lugar da presidente Dilma Rousseff (PT), o sucessor Michel Temer (PMDB) também representa uma incógnita.

Na interinidade, em que pesem as promessas de austeridade, Temer prosseguiu como dantes. Gastou o que não tinha, favoreceu os que já têm.

De um erário depenado, o interino sacou bilhões de reais para favorecer servidores públicos – estrato que tem assegurada estabilidade no emprego, aposentadoria, plano de saúde e greve remunerada. Enquanto privilegia o funcionalismo, anuncia a redução de direitos previdenciários dos trabalhadores.

Na política, buscou a maior configuração possível para a base aliada, distribuindo cargos ao gosto do freguês. Na economia, nomeou um czar para salvar o País do atoleiro fiscal. Tal qual seu antigo aliado, o PT.

Até aqui, a diferença concentra-se no estilo e nas promessas. Profissional da política, Temer escancarou as portas do Palácio do Planalto.

Afeito a rapapés sabe cortejar o interlocutor, o oposto da antecessora do vocativo imposto, que exigia o “Sim, senhora presidenta” como única resposta. Mais do que isso, Temer sabe que a política se faz com todos os sentidos, inclusive a audição.

Se suas falas não tiverem sido pura retórica para angariar simpatia de empresários e banqueiros ressabiados com o PT, Temer tem a oportunidade de começar a moldar um novo estado. Menos intervencionista, onde os cidadãos não precisam ser tutelados o tempo todo como se fossem incapazes.

Se suas palavras não tiverem sido ao léu, o estado brasileiro vai diminuir e a inclemente herança fiscal petista começará a arrefecer. Passado o governo Dilma, que golpeou os bons modos e a gestão competente, resta apenas esperar.

Se de novo der errado, há o consolo de novas eleições daqui a dois anos. Claro, se a Lava-Jato não precipitar a sucessão presidencial.

 

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