2016: o ano que ninguém esperava


Fins de ano sempre provocam uma vontade irresistível de fazer balanços. Em dezembro de 2015, já era sabido que 2016 seria um ano desafiador. Mas certamente ninguém imaginava o quanto. Veja um resumo do que foi este ano, baseado em eventos e personagens que marcaram 2016.

Dilma, Temer e o impeachment

Dilma Rousseff e Michel Temer começaram o ano com o relacionamento estremecido pela carta dele que vazou. Além disso a sombra do impeachment pairava sobre o Planalto e havia ainda a possibilidade de impugnação da chapa pelo TSE. No fim das contas Dilma caiu, Michel Temer assumiu e o TSE ainda não decidiu a questão da chapa.

O impeachment foi um espetáculo à parte, repercutido à exaustão, nacional e internacionalmente. Analistas e filósofos, professores e operários, do salão verde ao botequim, todos opinaram. Dilma pedalou, não se curvou e caiu, pelas mãos da Câmara e do Senado, com quem não soube negociar.

Temer assumiu a Presidência no meio da turbulência e tentou, em menos de seis meses, emplacar as reformas necessárias para tirar o Brasil do buraco. A agenda do planalto está avançando com o apoio do Legislativo, mas não sem danos colaterais. Em tempos de caça às bruxas, Temer já perdeu seis ministros. A base aliada é o único elemento seguro, a popularidade está em baixa e a delação da Odebrecht põe em risco sua permanência até 2018.

O Congresso Nacional

Na Câmara, Eduardo Cunha, “dono” do impeachment não resistiu ao primeiro semestre. Foi afastado da presidência da Câmara em maio e cassado em setembro. Perdendo o foro privilegiado, Cunha caiu nas mãos do Juiz Sérgio Moro, da Lava-Jato, em Curitiba. Termina 2016 preso, mas ainda ameaçador e com um possível acordo de delação a caminho.

Renan Calheiros, presidente do Senado, assistiu todo o processo de investigações, afastamentos, cassações e impeachment de camarote. Procurou ficar imune às turbulências, opiniões, investigações e delações. Quase conseguiu. Mas com 12 inquéritos nas costas e a opinião pública sedenta de condenações para acusados de corrupção, virou réu de ação penal no STF e denunciado na Lava-Jato. Nem bem chegou e 2017 promete.

Eleições 2016

As Eleições municipais com as novas regras de financiamento de campanha mudaram o cenário politico. A derrota do PT superou o 7 a 1 da Copa de 2014. O partido encolheu a números anteriores ao início da era Lula e vai ter que remar para se reconstruir. O PSDB saiu vitorioso, atingindo a impressionante marca de 803 prefeituras e cerca de 24% do eleitorado. Com isso, 1 em cada 4 brasileiros será governado por um prefeito tucano. O fortalecimento do PSDB acirrou a disputa interna entre Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, mirando 2018.

Outros partidos de esquerda também sofreram a rejeição petista, mas o PSOL cresceu e desponta como uma opção à esquerda. O azarão foi o apadrinhado de Alckmin, João Dória, empresário sem carreira política que abocanhou no 1o turno a prefeitura da SP. É uma reação do eleitorado contra a política tradicional, também evidenciada pelo recorde de abstenções. E como se não bastasse, para coroar esse ano de surpresas, Donald Trump foi eleito nos EUA. O polêmico empresário contrariou todas as pesquisas e mostrou o quanto a velha política está desacreditada.

Operação Lava-Jato

Com Executivo e Legislativo desacreditados, coube ao Judiciário dar vazão aos anseios populares. A Lava-Jato e sua força tarefa protagonizaram episódios emblemáticos como a condução coercitiva do ex-presidente Lula, a tão aguardada delação premiada da Odebrecht, a prisão de Eduardo Cunha e de Sérgio Cabral. Ninguém está imune e as reações contrárias já são perceptíveis na troca de farpas entre Congresso, MPF e STF. A Lava-Jato continua até 2017, mas é uma incógnita se conseguirá manter a sua eficácia até lá.

Crise entre poderes

Como efeito colateral do combate à corrução sistêmica, o limite de atuação e independência entre poderes ficou abalado. O STF e o Congresso estão discutindo mais que moradores em reunião de condomínio. Com isso, o projeto das 10 medidas contra a corrupção proposto pelo MPF como iniciativa popular foi desmantelado na Câmara. O Senado corre para votar um projeto contra o abuso de autoridade de magistrados e procuradores. E Renan, ignora solenemente uma liminar do ministro Marco Aurélio, determinando o seu afastamento da presidência devido à ação penal em curso e detona uma crise interna no STF, com Gilmar Mendes sugerindo o impeachment do colega magistrado. São tempos difíceis para a justiça e a democracia.

Chapecoense, PECs e a voz das ruas

Novembro de 2016 será lembrado pelo desastre aéreo que acabou com a vida de quase todos os jovens integrantes da equipe da Chapecoense e jornalistas que acompanhavam o time, rumo à final da Copa Sul-americana. A tragédia, no entanto, não ofuscou as votações das reformas propostas pelo governo Temer. A reação à aprovação da PECs dos Gastos e à proposta da Reforma da Previdência continua reverberando nas ruas em protestos, debates e manifestações nas redes.

O ano de 2016 ainda tem a semana para o seu fim. Faltou falar das Olimpíadas, da morte de Fidel Castro, do Brexit, de outras delações e vazamentos, da crise financeira e quebra dos Estados. Foi um ano intenso e inesperado. Com tudo o que aconteceu e os desdobramentos futuros, merece que os historiadores dediquem à ele um capítulo inteiro nos livros que relatarão os tempos peculiares que estamos vivendo.

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