O mundo acompanha as eleições nos Estados Unidos, em novembro deste ano, de olho em um possível retorno de Donald Trump à Casa Branca. A cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que uma vitória de Trump irá repercutir em candidaturas do campo conservador ao redor do planeta, inclusive no Brasil.
— O impacto de uma vitória de Donald Trump no cenário internacional é imenso. É a ratificação da viabilidade eleitoral da extrema-direita, mesmo após uma derrota, uma primeira derrota. Ou seja, vai ser um atestado de que a extrema-direita tem um projeto de poder que é viável eleitoralmente e que ele é estável no tempo, que ele consegue sobreviver sem mandato.
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No entanto, em entrevista à Rádio Itatiaia, na última quinta-feira (8), o presidente Lula descartou uma relação direta no resultado americano deste ano com as eleições de 2026 no Brasil.
— Eu sinceramente não acredito que a eleição de Trump venha a ter influência sobre as eleições brasileiras porque nunca teve. Eu acho que o Trump é uma questão americana, é uma loucura americana.
Ainda que Lula defenda ser uma questão americana, a professora Mayra Goulart ressalta que o Brasil faz parte de países que também receberá influência do resultado nos Estados Unidos.
— No caso do Brasil, assim como no caso global, a referência aos Estados Unidos é muito importante para a extrema-direita — afirmou Goulart — Uma vitória da extrema-direita tende a mostrar que eles estão indo no caminho certo, ou ser interpretado dessa maneira e reforçar a estratégia discursiva da extrema-direita e dos seus principais pontos ideológicos.
Inegibilidade
Enquanto Trump se consolida como presidenciável do Republicano, o empresário enfrenta diversos processos na Justiça americana. Entre eles, a Suprema Corte dos Estados Unidos avalia se Trump poderá participar das eleições em novembro em razão de sua participação na Invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
A professora Mayra Goulart avalia que a repercussão dos processos não deve impactar de forma negativa o apoio de Trump entre seus eleitores.
— O núcleo duro de apoiadores de Donald Trump não sofre impacto por essas decisões judiciais, pelos processos, há uma leitura de perseguição e mesmo de apoio à tomada do Capitólio. Ou seja, eu não acho que isso tenha impacto no núcleo duro do Trumpismo. Nas margens do Trumpismo, naqueles eleitores mais moderados, sim, tem algum impacto. A questão é estimar se esse impacto é tão grande a ponto de reverter o voto, ou seja, de fazer com que ele vote no partido Democrata ou que pelo menos não vá votar.
Caso a Suprema Corte dos Estados Unidos entenda que Trump deva se tornar inelegível, haverá uma nova discussão interna do Partido Republicano e possivelmente uma reação do eleitorado de Trump.
No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que já foi chamado de Trump dos trópicos, já é considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, o comentarista político Gustavo Segré avalia que uma vitória de Trump pode reverter esse cenário.
— Me parece que se ganha Trump a presidência, não apenas as primárias, isso pode ter um impacto maior como para pressionar a reedição do processo do Bolsonaro — afirmou o analista político. — Não devemos esquecer que, em 2026, estará André Mendoza e estará Nunes Marques no TSE. Isso não quer dizer que seja alterada a inelegibilidade, mas se pode ser revista, me dá a sensação de que poderia ser revista.
Por enquanto, Donald Trump lidera as prévias do Partido Republicano, colecionando vitórias e pressionando adversários a desistirem de suas candidaturas. No momento, resta como alternativa dentro da legenda a ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley.
Donald Trump e Nikki Haley
O último termômetro na disputa do Republicano foi o caucus em Nevada, na última quinta-feira (8), em que Trump saiu novamente vitorioso. No entanto, dessa vez ele era o único candidato nas cédulas de votação. Nikki Haley optou por pular os caucus conduzidos pelo partido no estado.
Por sua vez, Haley figurou sozinha nas cédulas na terça-feira (6), nas primárias do estado, mas ainda assim ficou atrás da opção “nenhum dos candidatos”. Enquanto 30,5% votaram em Halley, 63,2% rejeitaram o nome da candidata. Após o resultado, Trump voltou a criticar a campanha de sua adversária no Republicano que “prejudica o partido e, de certa forma, o país”.
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A professora da UFRJ Mayra Goulart avalia que mesmo sem chances de superar o seu adversário, Nikki Haley deve manter sua candidatura o máximo que conseguir.
— Não vai vencer as prévias, mas é um lugar de marcar, de marcar o ponto, de marcar a posição, de ficar sendo conhecido como uma alternativa para que num momento futuro, seja viável.
A próxima primária do Partido Republicano para decidir quem concorrerá à Casa Branca será em Carolina do Sul, em 24 de fevereiro.