Mais Brasil: dificuldades no horizonte

As propostas integrantes do Plano Mais Brasil, novo ciclo de reformas estruturais apresentadas pelo governo, representam, sem dúvida, uma revolução. Mesmo em se tratando de Propostas de Emenda à Constituição (PEC), que requerem um processo de análise complexo e grande quantidade de votos para serem aprovadas, o sentimento majoritário no Congresso é favorável ao núcleo das medidas.

No entanto, os prazos e o conteúdo final ainda são incógnitas. Além do rito legislativo, o mérito envolve polêmicas que demandam negociações e muita discussão. Mas o governo está otimista quanto à conclusão do processo, considerando-se a complexidade dos temas.

Tempo

No Senado, tomando como parâmetro o fast track da Reforma da Previdência, aprovada em pouco mais de 60 dias, não haverá tempo suficiente para concluir os debates até o encerramento do ano legislativo. Na Câmara, onde o processo envolve mais instâncias de deliberação (Comissão de Constituição e Justiça, Comissão Especial e plenário), as propostas só deverão ser analisadas em 2020. A recomposição das comissões e o processo eleitoral municipal afetará sensivelmente o calendário dos trabalhos na Casa.

Entre as três propostas, a que deverá contar com maior celeridade na análise é a PEC Emergencial (PEC nº 186/19), que regulamenta a regra de ouro e estabelece medidas para conter o aumento de despesas (gatilhos). Por ser prioritária para a gestão orçamentária da União em 2020, será acompanhada atentamente pelo governo.

A PEC da Desvinculação dos Fundos Setoriais (PEC nº 187/19) também deve ganhar agilidade, em face do interesse de estados e municípios na liberação de recursos represados nesses fundos. A PEC nº 188/19, que remodela o Pacto Federativo e dita nova relação entre a União e os entes subnacionais, tende a demorar mais.

Polêmicas

Prevê-se que muitas divergências surgirão ao longo dos debates. Na PEC Emergencial, por exemplo, a possibilidade de redução de remuneração da jornada de trabalho será um dos pontos mais atacados.

Com relação à PEC da Desvinculação dos Fundos, a grande preocupação é com a possibilidade de extinção e com a destinação dos recursos de fundos, especialmente aqueles com função social, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

A PEC do Pacto Federativo é a mais polêmica. Entre as várias divergências já manifestadas estão: a inclusão de pensionistas nos limites de despesa de pessoal; a proibição da transferência de parte dos royalties do pré-sal entre os entes que tenham ações contra a União relacionadas a desonerações tributárias; o entendimento de que decisões judiciais só serão cumpridas se houver dotação orçamentária; a impossibilidade de reajuste do Benefício de Prestação Continuada (BPC); a extinção de municípios com menos de 5 mil habitantes; entre outros itens.

Assim, dada a complexidade das medidas, a batalha política no Congresso será acirrada. O nível de desidratação do plano ainda é imprevisível, bem como o timing de aprovação.

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