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Análise: O tempo de Lula e a necessária paciência de Arthur Lira

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Política

Depois de uma paralisia nos trabalhos da Câmara dos Deputados, cuja pauta ficou adormecida nas últimas duas semanas, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), definiu, após pedido de líderes do governo, que dará celeridade às matérias de interesse da equipe econômica, como os projetos que tributam fundos e o que trata sobre o marco de garantias, ambos considerados fundamentais para a melhora do cenário econômico e fiscal. A mudança de humor e a guinada na pauta, avaliam aliados de Lira ouvidos pela editora-chefe da Arko, Rachel Vargas, tem a ver com os ventos soprados pelo Palácio do Planalto, cuja sinalização é de que o alagoano terá o prometido, mas tudo, como tem sido até agora, no tempo do Presidente da República.

O recado ocorre após Lula e Lira retornarem de Nova York, onde estiveram por cinco dias em agenda na ONU. Apesar de terem passado a maior parte do tempo juntos, um sinal de que a relação está estável, Lira foi surpreendido com a fala de Lula, na segunda-feira, já em solo brasileiro, de que não está disposto a mexer na Caixa Econômica Federal, “por enquanto”. A declaração, claro, desagradou a Lira a quem teria sido prometido indicar o presidente do banco e as 12 vice-presidências. Mesmo que o acordo esteja apalavrado, o pragmático Lula não perde a chance de reafirmar que pertence a ele o timing das decisões.

Foto Valter Campanato/EBC

Mais reflexivo e menos reativo, conforme observou o entorno de Lira, a resposta do presidente da Câmara foi o silêncio e uma semana esvaziada, estratégia mal avaliada pelos líderes. Somado a isso, foi organizado por partidos da oposição e frentes parlamentares um amplo movimento para obstruir a pauta da Casa. Embora a razão para a obstrução tenha sido a insatisfação do Congresso com a suposta usurpação do STF sob os poderes do Legislativo, com decisões sobre marco temporal, aborto e legalização das drogas, o reflexo também foi sentido pelo Executivo e coube a Lira tentar desmobilizar a turma.

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A Arko flagrou um desses momentos, em que o presidente da Câmara telefona a um importante líder do movimento e pede o fim da obstrução. Com grande influência sob seus pares, acabou atendido e ampliou seu capital na negociação com o Planalto. O governo, que até então via uma Câmara apática e sem ordem do dia, conseguiu, graças a isso, aprovar a MP 1177 que abriu crédito de R$200 milhões para o Ministério da Agricultura e Pecuária, para combater a gripe aviária. Embora tenha sido também um movimento de líderes da base do governo, o fim da obstrução e a aprovação de mais uma medida importante ao governo, amplia a fatura entregue por Lira que se soma ao arcabouço fiscal, reforma tributária e Carf. No fundo, o presidente da Câmara pavimenta o caminho para um projeto que vai além da Caixa Ecônomica. Ele quer o apoio do Planalto ao seu candidato na sucessão do comando da Câmara, em 2025, fundamental para sustentar sua força política após deixar a cadeira. O desafio é lidar com um presidente da República pragmático, experiente e pouco suscetível a pressão. Paciência é a palavra da vez.

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