O ex-presidente Lula decidiu investir nas ambiguidades dos partidos do centro. Para reposicionar seus apoios, começa a costurar novas alianças e já avisou ao PT que além de grandes sacrifícios eleitorais, buscará apoios inclusive de bolsonaristas e defensores do impeachment de Dilma Rousseff.
Nesta semana, ele está focado nas lideranças do Nordeste e Centro-Oeste do MDB e do PSD. Já convenceu o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), alinhado a Bolsonaro, a conversar nos próximos dias. No MDB ele tem dialogado com várias lideranças nordestinas emedebistas, como Renan Calheiros.
No PSD o ritmo está mais acelerado. Encaminhou um acerto relevante na Bahia, ao convencer o senador Jaques Wagner (PT) a recuar de sua pré-candidatura ao governo baiano em favor de Otto Alencar (senador da Bahia pelo PSD), e seguindo com seu mandato no Senado (Wagner tem mais quatro anos). Otto estaria resistindo ao plano, mas estão previstas novas conversas.
Com esse movimento, Lula também tenta chacoalhar mais o complexo tabuleiro nacional do presidente do PSD, Gilberto Kassab, muito próximo de convencer o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), a migrar para sua legenda e disputar a Presidência, diante do engessamento do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) nas pesquisas de opinião.
No caso da Bahia, onde o PT governa há 16 anos e tem chances eleitorais, o sacrifício é dado como certo. Em seu Twitter ontem, Wagner confirmou a reunião com o “grande maestro da política nacional” e afirmou que o objetivo é fortalecer uma vitória na Bahia com Lula, mas ponderou que “o quadro continua o mesmo, com minha pré-candidatura ao Governo e o desejo de Otto Alencar e Leão de disputarem o Senado”. E pontuou: “Política é assim: se conversa muito até se chegar a um consenso”.
Nas contas dos petistas, valeria a pena o acordo para Lula conquistar parte do PSD, que já teria candidaturas atreladas em outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Sergipe. Na próxima semana, Lula deverá ir ao Rio aprofundar os diálogos.
Mas enquanto se movimenta em busca do Centro, Lula também sofre mais pressões à esquerda. Hoje o PSOL apresentou, na Câmara dos Deputados, ao lado do PT, seus eixos programáticos que condicionarão os apoios para uma aliança eleitoral com Lula. A lista de propostas do PSOL inclui a taxação de fortunas, mudanças na política de preços de combustíveis, além da revogação completa das reformas trabalhista e da Previdência, temas que Lula não pretende radicalizar. Mais um ponto de pressão do PSOL é a possibilidade ainda aberta de uma candidatura de Guilherme Boulos ao governo de São Paulo, e não à Câmara dos Deputados, como quer Lula.