A tragédia ambiental no Rio Grande do Sul (RS) pode estar provocando uma mudança estrutural de grandes proporções na opinião pública gaúcha. Eventos trágicos como o ocorrido no RS costumam produzir o aumento da solidariedade, conforme podemos observar no engajamento de milhares de voluntários no socorro às vítimas da catástrofe, assim como gerar um ambiente de grande união em favor da reconstrução do RS.
A pesquisa Genial/Quaest realizada na semana passada, no RS, mostra que 88% dos gaúchos avaliam positivamente a atuação da população local no enfrentamento da tragédia. Na sequência aparecem os artistas e influenciadores digitais (73%); as lideranças locais (72%); as igrejas (70%); e as empresas (65%).
O clima de união repercutiu positivamente na imagem das autoridades. Segundo a Quaest, a atuação da Prefeitura de Porto Alegre (RS), comandada por Sebastião Melo (MDB), é considerada positiva por 59% dos entrevistados. Apenas 13% consideram negativa a atuação da Prefeitura da capital gaúcha.
O governo Eduardo Leite (PSDB) tem uma avaliação positiva de 54% na tragédia. Somente 20% entendem que a atuação do governo estadual é negativa. E 53% dos gaúchos tem uma avaliação positiva da atuação do governo Lula. Apenas 23% possuem uma avaliação negativa.
Quem analisa esses números isoladamente pode ser levado a considerar que os gaúchos aprovam a atuação das autoridades. A elevada aprovação pode ter relação com a comoção provocada pela tragédia, pois eventos como esse produzem um clima de solidariedade e união na opinião pública.
Porém, a pesquisa traz também números indicando que as autoridades terão um desafio monumental pela frente. Quando os entrevistados são questionados a respeito do nível de responsabilidade das autoridades na tragédia, 68% atribuem muita responsabilidade ao governo estadual. 64% dizem o mesmo em relação às prefeituras. E 59% também têm a mesma percepção em relação ao governo federal.
Enquanto a enchente estiver nas ruas de Porto Alegre e das principais cidades do Estado, e a dimensão da tragédia não for totalmente contabilizada, o clima de solidariedade e união tende a permanecer presente no RS. Depois, entraremos em um segundo momento, onde haverá o desafio da reconstrução das cidades, o gerenciamento de milhares de desabrigados, e o impacto na economia gaúcha e nacional.
É neste segundo momento que as autoridades terão que ser efetivas A sociedade gaúcha cobrará a reconstrução das cidades atingidas, sobretudo o mínimo de dignidade aos gaúchos que perderam suas casas. Dependendo da capacidade dos governos federal, estadual e municipal responderem a essa demanda urgente, teremos consequências importantes no clima da opinião pública.
Como a prioridade de todos é, neste primeiro momento, salvar vidas, garantir o acesso da população aos serviços básicos, assim como o abastecimento de mantimentos essenciais, ainda não é possível mensurar os desdobramentos da tragédia ambiental gaúcha. Entretanto, como o grau de responsabilidade atribuído aos governos é elevado, mesmo com o RS vivendo um clima de grande solidariedade e união, temos sinais de que profundas mudanças sociais, econômicas e políticas estão em curso.
Para citar apenas um exemplo, o debate dos efeitos das mudanças climáticas, a necessidade de medidas de preservação ambiental e a realização de obras estruturais que amenizem o impacto das enchentes devem passar a ocupar um espaço de destaque na agenda gaúcha.