Eleições municipais complexas no RS – Análise

Até a ocorrência das fortes enchentes que provocaram a maior tragédia ambiental da história do Rio Grande do Sul (RS), tínhamos o seguinte cenário no Estado: os prefeitos que serão candidatos à reeleição nas eleições municipais de outubro estavam em vantagem na disputa pelos seguintes aspectos: 1) controle da máquina administrativa; 2) maior capacidade de conquistar partidos aliados; e 3) melhores condições de atrair recursos financeiros.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O que era projetado nesta direção foi profundamente modificado pela catástrofe ambiental. A enchente que devastou cidades, empresas e a vida das pessoas também mexerá na conjuntura eleitoral dos municípios gaúchos, sobretudo nas cidades mais afetadas pela tragédia. Quem será mais afetado por este “novo” cenário são os atuais prefeitos e os representantes da continuidade.

Em tragédias de grandes proporções como esta, a pressão da opinião pública sobre as autoridades aumenta consideravelmente. Principalmente quem foi afetado, perdendo todo ou parte de seu patrimônio, demanda soluções rápidas para problemas que são bastante complexos. Como exemplo, podemos citar a questão habitacional. Neste momento, o RS tem mais de 581 mil desalojados e 65 mil desabrigados. Mesmo que a responsabilidade de encontrar uma moradia com condições mínimas de dignidade não seja apenas dos prefeitos, quem estará sendo “julgado” nas urnas serão os atuais administradores municipais.

Assim, os prefeitos, até outubro, tendem a se tornar “heróis” ou “vilões” aos olhos da opinião pública. E o “julgamento” que a sociedade fará deles será imediatista, olhando para o curto prazo.

Paralelamente à questão da moradia, o debate ambiental deve dominar a agenda eleitoral. Como a expectativa é que os danos econômicos sejam devastadores sobre a economia gaúcha, os prefeitos também serão cobrados por uma solução no tema do emprego. Soma-se a isso o risco de uma crise sanitária, consequência da transmissão de doenças em função da água contaminada nas principais cidades do estado. Outro tema que fará parte das eleições será a segurança, já que tem ocorrido um aumento dos saques nas residências e estabelecimentos.

Diante deste cenário, quem se beneficia é a oposição aos prefeitos? A resposta a esta pergunta é complexa. A brusca mudança no cenário político cria uma conjuntura de muitas incertezas. Se considerarmos que em muitos municípios gaúchos a oposição estava enfraquecida, o quadro eleitoral de indefinição trouxe novas possibilidades para os adversários dos prefeitos, principalmente nas cidades em que a tragédia ambiental é mais grave.

Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

Entretanto, os adversários dos prefeitos também terão desafios pela frente. Num contexto em que existe um clima de consternação na opinião pública, politizar a tragédia pode trazer prejuízos eleitorais. Como segmentos importantes da sociedade gaúcha perderam entes queridos, sua moradia e a fonte de renda, a população quer soluções para esses problemas e tende dar pouca atenção para o debate político-eleitoral.

A oposição também se depara com outros dois obstáculos. O primeiro deles é que os prefeitos, mesmo não tendo mais favoritismo pré-enchente, dispõem de uma ampla exposição no noticiário. Na atual fase da tragédia, em que as chuvas permanecem intensas, deixando parte das cidades submersas, o espaço comunicacional da oposição será restrito.

No entanto, hoje, a visibilidade que os prefeitos possuem nos meios de comunicação ampliam o desgaste pelo qual eles estão submetidos, pois desde o início da enchente, os problemas na infraestrutura da cidade continuam.

Outra questão a ser observada é o curto calendário eleitoral. As convenções partidárias estão marcadas para o período de 20 de julho a 5 de agosto. Ou seja, em cerca de dois meses, a agenda eleitoral irá se misturar com a agenda da reconstrução do RS. No entanto, as atenções da opinião pública estarão mais concentradas na reconstrução do Estado do que no processo eleitoral.

Assim, novamente voltamos para a questão levantada no início deste artigo: os prefeitos serão “heróis” ou “vilões”? Hoje, os prefeitos estão mais para “vilões” do que “heróis”. Porém, tudo dependerá das respostas que eles serão capazes de construir até outubro.

 

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