A guerra entre Rússia e Ucrânia tem afetado o fornecimento de fertilizantes para a agricultura brasileira. Isso porque a Rússia e a Bielorússia (Belarus) são a origem de grande parte desses produtos. De todo cloreto de potássio consumido no Brasil, 26% vem da Rússia e 18% vem da Bielorrússia. O composto é um dos principais insumos de muitos adubos químicos. Além disso, a Bielorrússia, aliada de Vladimir Putin, é responsável pelo fornecimento de cerca de 20% do cloreto de potássio utilizado no mundo.
De acordo com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o conflito criou uma barreira que impede que o Brasil receba fertilizantes dos dois países. “Temos a suspensão desse comércio porque não temos meios para pagar e nem navios para carregar esses produtos”, disse.
Ela também disse, em live, nesta quinta-feira (3), que a guerra na Ucrânia deve levar a uma inflação de alimentos no Brasil. “A Ucrânia é um grande produtor de alimentos. Produzem muito milho, trigo, girassol e cevada. Eles exportam para a Europa, o que gera uma alta de preços. No Brasil, com a economia globalizada, essa alteração vem pra cá”, avaliou.
Para tentar evitar que a guerra na Europa se torne uma crise de desabastecimento no Brasil, o governo deve aplicar três estratégias:
Busca por excedentes de produção
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) negocia com países produtores de fertilizantes para maximizar a importação de modo a compensar os insumos que deixaram de vir da Rússia.
Na próxima semana, Tereza Cristina viaja ao Canadá. O país já é um fornecedor, mas a ideia é garantir a venda de excedentes de produção principalmente de potássio, produto do qual o Brasil é mais dependente de outros países.
Negociação semelhante é feita com o Irã, país onde a ministra esteve em fevereiro e que é um dos principais fornecedores de ureia para o agronegócio brasileiro.
“O plano ‘A’ é buscar outros parceiros, de quem teremos que importar talvez quantidades menores, mas que são parceiros importantes nesse momento. O Chile tem potássio, então nós estamos já fazendo reunião. Temos a ureia que é um outro problema, dos nitrogenados, que nós temos muitos países na região do Oriente Médio [que podem fornecer]. Então temos outras alternativas para suprir essa deficiência que a gente pode vir a ter”, declarou a ministra.
Gestão de demanda
O governo prepara uma espécie de campanha educativa para melhorar o aproveitamento dos fertilizantes importados. Os insumos comprados de fora são preparados para o solo e o clima de países com especificidades diferentes das que encontramos no Brasil, portanto podem ter eficácia menor se não forem utilizados na forma correta. Por isso, o MAPA prepara uma espécie de caravana para difundir informações sobre o manejo correto de fertilizantes, para evitar desperdícios e combinar o uso dos insumos tradicionais com outros produtos e tecnologias. De acordo com fonte no governo ouvida pela Arko, isso deve levar à redução de cerca de 10% na demanda.
Importação mais fácil
A terceira estratégia que será aplicada é a facilitação da importação dos fertilizantes. Para isso, o governo deve dar prioridade para o desembarque de navios que trazem esses produtos para o Brasil, de modo a diminuir os custos do transporte. Assim, o governo visa evitar que eventuais atrasos tenham impacto na produção de alimentos.