Muito tem se falado sobre a queda no número de prefeitos eleitos pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no primeiro turno das eleições municipais de 2020. O movimento esperado seria de uma migração desses eleitores para outros partidos no mesmo espectro ideológico. Contudo, levantamento do O Brasilianista mostra que outros partidos de esquerda também tiveram retração. No total, o número de prefeitos eleitos pela esquerda no primeiro turno passou de 1199 em 2016 para 842 – queda de 42% no desempenho.
Durante seu momento mais forte, após 4 anos de Lula na presidência da República, o PT chegou a ter 630 prefeitos eleitos em primeiro turno, em 2012. Contudo, de lá pra cá, a trajetória tem sido descendente. Foram duas quedas drásticas: para 254 nas eleições municipais de 2016 e para 179 prefeitos eleitos em primeiro turno neste ano.
Contudo, a queda do PT não foi acompanhada por aumento de outras alternativas de esquerda. O Partido Democrático Trabalhista (PDT), dirigido por Carlos Lupi e Ciro Gomes, apesar de se manter na lista dos 10 partidos com melhor desempenho, teve uma leve queda, passando de 331 para 311 prefeitos eleitos em primeiro turno.
Já o Partido Socialista Brasileiro (PSB), cujo presidente é Carlos Siqueira, que tinha 430 prefeitos eleitos em primeiro turno agora teve 250.
Saindo da lista dos 10 partidos com melhores resultados, temos o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que caiu de 80 para 46 prefeitos. O Partido Verde (PV) foi de 98 para 47. Rede Sustentabilidade e Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) registraram um pequeno crescimento, mas continuam na lanterna em número de prefeitos eleitos em primeiro turno: A Rede passou de 4 para 5 e o PSOL passou de 2 para 4.
Totalizando os resultados dos oito partidos citados, o total de prefeitos eleitos em primeiro turno passou de 1199 para 842.
2004 | 2008 | 2012 | 2016 | 2020 | |
PT | 411 | 549 | 630 | 254 | 179 |
PDT | 306 | 351 | 304 | 331 | 311 |
PSB | 175 | 308 | 434 | 430 | 250 |
PCdoB | 10 | 41 | 51 | 80 | 46 |
PV | 56 | 75 | 99 | 98 | 47 |
Rede | 4 | 5 | |||
PSOL | 0 | 1 | 2 | 4 | |
Total | 958 | 1324 | 1519 | 1199 | 842 |
Quando é analisado o número de prefeitos de esquerda eleitos nas capitais brasileiras, a queda se mostra ainda mais evidente: nenhum foi eleito em primeiro turno. Em 2016 foram três: Carlos Eduardo Alves (PDT) ganhou em Natal (RN), Marcus Alexandre (PT) em Rio Branco (AC) e Amastha (PSB) em Palmas (TO).
Perda de protagonismo do PT em 2022
O resultado reforça a posição do PDT como sigla mais forte de esquerda no Brasil, o que pode ter reflexo nos objetivos do partido para o ano para 2022.
“O PT perde a hegemonia como partido de esquerda e quem assume essa predominância é o PDT, seguido pelo PSB. Ganha tração o desejo de Ciro Gomes de ser o candidato da esquerda. Olhando de agora, há a possibilidade disso gerar um racha na esquerda, com Lula se recusando a apoiar Ciro”, avaliou Murillo de Aragão, CEO da Arko Advice na live semanal Política Brasileira.
Fortalecimento do centro
Se os votos do PT não foram para outras siglas de esquerda, para onde foram esses eleitores? A votação neste ano foi marcada pelo fortalecimento de partidos de centro. O PP, que elegeu 495 prefeitos em primeiro turno em 2016, agora saltou para para 682 – crescimento de 37%. O PSD, que teve 537 eleitos em 2016 no primeiro turno, passou para 650 – crescimento de 21%.
Mas o destaque mesmo foi o DEM, que teve crescimento de 72% no número de prefeitos eleitos em primeiro turno – ganhou em 459 cidades neste ano frente a 266 em 2016.
“É importante ressaltar que a eleição desse ano é municipal. Ela tem uma influência predominante das agendas municipais na escolha dos candidatos. Então não é necessariamente dizer que houve uma rejeição total ao presidente, à agenda de esquerda e à polarização. Houve também uma indicação de clima político sobre a situação nacional, mas se predomina questões municipais”, afirma Aragão.