O presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem (11) a recriação do Ministério das Comunicações, que deixa de fazer parte do Ministério de Ciência e Tecnologia, e definiu o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN) como ministro da nova pasta.
A escolha de Faria traz as seguintes consequências:
1) Sela definitivamente a entrada do centrão no governo, já que esse conjunto de partidos ocupará o primeiro escalão do presidente Jair Bolsonaro;
2) Marca uma ruptura com o discurso de campanha, que prometia não aderir ao presidencialismo de coalizão;
3) Melhora o ambiente para o avanço de reformas no pós-pandemia. Vale lembrar que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem buscado se reaproximar da Câmara após algumas divergências;
4) Governo reforça o apoio de uma base mínima na Câmara, criando espaço para que medidas que aumentem o gasto público sejam barradas;
5) A nomeação vem no momento em que o governo discute com o Congresso a prorrogação do auxílio emergencial para trabalhadores informais. A equipe econômica defende a prorrogação por mais dois meses com valor de R$ 300, cada parcela.
Com Fábio Faria à frente do Ministério das Comunicações há ainda duas consequências importantes. A primeira delas é que o Palácio do Planalto reforça sua relação com a Câmara dos Deputados.
Vale lembrar que Faria ocupa hoje o cargo de terceiro secretário da Mesa da Câmara. Aliás, em manifestação hoje ao canal Globo News, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), elogiou a escolha de Fábio Faria para o Ministério, afirmando que o deputado goza de bom trânsito político na Câmara.
Outro aspecto a ser mencionado é que Faria é próximo do deputado federal Artur Lira (PP-AL), outra grande liderança do centrão e que almeja concorrer à presidência da Câmara na sucessão de Rodrigo Maia. De certa forma, a escolha de Fábio Faria fortalece a parcela do centrão que aderiu ao governo.
Apesar disso, facilita um entendimento maior entre Maia e o governo, pois como há hoje uma divisão no centrão – uma ala mais fiel ao presidente da Câmara e outra mais ligada a Bolsonaro – manter esse conjunto de partidos minimamente unido é importante tanto para Rodrigo Maia quanto para o Palácio do Planalto.
Do ponto de vista da opinião pública, poderá ocorrer um aumento da desaprovação ao governo, acentuando a migração de quem avalia o governo como regular para a avaliação ruim/péssimo. Na última pesquisa Datafolha, 67% dos entrevistados reprovaram a aproximação de Bolsonaro com o centrão. Apenas 20% aprovaram.
Mesmo assim, há ainda a expectativa que com Fábio Faria no Ministério das Comunicações haja uma melhora na comunicação do governo com o Congresso. Além disso, o novo ministro é genro do empresário Sílvio Santos, dono do SBT.
Assim, a partir do fortalecimento da relação com o SBT e com Sílvio Santos, que além de ser um comunicador com grande trânsito na classe média baixa e muito próximo a Bolsonaro, o presidente busca ter o SBT e a Rede Record, do bispo Edir Macedo – que já adota uma postura mais simpática ao governo na sua cobertura jornalística— como contraponto à postura cada vez mais crítica que a Rede Globo adota em relação ao governo.
Ao escolher Fabio Wajngarten como secretário-executivo das Comunicações, que antes estava no Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Bolsonaro coloca na pasta um nome de sua confiança, que tem o apoio de seus filhos. Com isso, o presidente mantém o controle operacional do Ministério.
Outras pastas podem ser recriadas e utilizadas para reforçar a presença do Centrão no governo. Uma delas é o Ministério da Segurança Pública. Essa possibilidade foi cogitada em 2019, quando Sérgio Moro ainda estava na equipe ministerial. A iniciativa tem apoio de governadores e da chamada bancada da bala no Congresso.