Separados por poucos metros nas celas da Polícia Federal de Curitiba, Eduardo Cunha e Marcelo Odebrecht têm o poder de abalar e, até mesmo, destruir alguns dos principais alicerces da República.
Não existe dúvida quanto à toxidade das revelações de ambos. As dúvidas se referem ao timing. Como e quando virão a público? Outra questão que aflige é saber como separar o que será denunciado? O que é caixa 2 e o que é propina?
Mas as dúvidas não param por aí. Quem será mortalmente atingido e quem pode sobreviver? Qual será a capacidade de digestão e processamento do STF das denúncias que atingirão grandes lideranças?
Para o mercado, apenas dois nomes interessam de verdade: Michel Temer e, no plano interno, Eliseu Padilha. Temer por razões óbvias. Padilha pela capacidade de articular o governo.
Tudo indica que ambos podem sair – mesmo que não ilesos – mas operacionalmente funcionais da tempestade que virá pela frente.
Não há interesse institucional de inviabilizar o governo Temer mesmo que a tempestade seja muito violenta. O STF sabe da delicadeza do momento e vai atuar com muita cautela na apreciação das denúncias de políticos.
No curto prazo, o governo parece ter uma estratégia para lidar com a incerteza: criar boas notícias no âmbito Legislativo com o avanço da PEC do Teto dos Gastos e da Lei do Pré-Sal na Câmara.
Tudo indica que as turbulências da semana passada (prisão de Cunha e de policiais legislativos do Senado) não irão abalar a capacidade de votação na Câmara dos Deputados.
A estratégia é acertada, pois as votações podem gerar boas repercussões no ambiente econômico. E, com isso, melhorar a sensação térmica no país.
Porém, as rachaduras na estrutura da política nacional são evidentes. E as dúvidas imensas. As sequelas das futuras delações e revelações serão graves e vão testar gravemente os limites da política brasileira e de sua capacidade de renovação.
Em especial, pela expectativa de que o STF será cauteloso, mas não irá deixar de atuar com mão pesada sobre aqueles cujas provas de mal feitos sejam irrefutáveis.