O inacreditável espetáculo de abertura dos Jogos Olímpicos no Brasil, na última sexta-feira, enviou várias mensagens a públicos diversos. O público mais importante, atingido em cheio pela beleza do evento, foi a população brasileira, que vive um longo momento de perda de autoestima.
O que foi mostrado representa a incrível capacidade dos brasileiros de fazer melhor do que outros países, desde que tenha condições para tal. A abertura no Maracanã superou em muito o que foi exibido em Olimpíadas anteriores.
Outro público – aqueles que sempre acham que tudo vai dar errado e que por isso não deveríamos nos meter em nada universal ou global – também recebeu sua lição. Teve de aceitar que a festa foi excepcional, além de todas as expectativas.
Oferecemos um panorama planetário e universal do caráter transformador das manifestações culturais de qualidade produzidas no país. A cultura é o moto-perpétuo da evolução do ser humano, e os Jogos são o momento de ultrapassar limites no esporte. O Brasil revelou ao mundo o que é ser brasileiro. E mostrou como somos, apesar de tudo, um povo tolerante, multiétnico e multicultural que trabalha em uma frequência cultural de vanguarda. As cenas responsáveis pelo deslumbramento surgiram da mistura de criatividade e tecnologia, realidade e mundo virtual com sotaque tropical.
Em outras atividades, do mundo artístico ou real, o Brasil já é reverenciado. Por exemplo, em matéria de futebol, vôlei, música, publicidade, agribusiness, acesso a celulares, softwares para internet, leis de meio ambiente, política social e por ser a quarta democracia do mundo, com quase 130 milhões de eleitores que votam em urna eletrônica com resultado revelado em seis horas.
A festa da abertura dos Jogos, no entanto, tem a força das sombras de LED dançando no Maracanã, ícones da modernidade visual e templo do esporte que os consumidores de Brasil lá fora identificam num segundo.
No momento em que o país faz esse show fantástico, vale lembrar a frase recente do historiador Kenneth Maxwell, para quem “os problemas do Brasil, embora possam parecer grandes, estão longe de serem os piores do mundo ou insuperáveis”.
A abertura das Olimpíadas expôs virtude e fortuna. A virtude de enfrentar desafios. A fortuna de ter feito as escolhas certas e de ter maravilhado a todos com elas. Serve de exemplo para o governo e os políticos tomarem as decisões necessárias para enfrentar os desafios presentes.
Os profissionais que produziram o evento formam um premiado dream team – Andrucha Waddington, Abel Gomes, Daniela Thomas e Fernando Meirelles. No governo, apesar da política e de suas tragédias, também temos um “dream team” econômico que pode nos levar a tempos melhores. Precisamos que a magia da festa esportiva de sexta-feira inspire a seleção brasileira e a vida pública.
No primeiro caso, embora sobre talento, falta atuar como equipe, honrar a camisa, acertar o gol. O futebol é um jogo que já levou à superação de algumas nações em momentos difíceis, como aconteceu com o próprio Brasil na Copa de 70, nos anos de chumbo. No segundo, da política, as falhas do percurso estão sendo reparadas aos poucos, mas mantendo o rumo. Temos experiência em planos de emergência, de combate à superinflação e restauração das instituições, que funcionam.
Por mais que possam existir problemas ao longo das competições, o espetáculo disse ao mundo que somos capazes. Às vezes, nos é difícil dar conta do ordinário, mas, quando se trata do extraordinário, podemos ser insuperáveis.
Este texto foi escrito e para a coluna de Murillo de Aragão, e está publicado no site O Tempo.