PSDB: projeto de país, nem tanto um projeto de poder


Na virada do ano, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) se encontrou com Michel Temer para passar ao presidente da República algumas mensagens dos tucanos. A primeira é a de que o partido estaria com ele até o fim de sua gestão. A segunda: eles seriam solidários às batalhas que o governo enfrentaria no Congresso Nacional.

Considerando o histórico de indefinições da legenda, o apoio a Temer é de se louvar. Primeiro, pelo fato inequívoco de que seu governo é politicamente forte e socialmente fraco. O segundo elemento reside no espectro permanente da operação Lava Jato, que ronda integrantes do governo.

O terceiro está na agenda de imensa complexidade que Temer terá que administrar até o fim do ano, em especial a que envolve a reforma da Previdência. Assim, apoiar o Planalto é uma operação de alto risco. Lideranças menos corajosas poderiam considerar deixar Temer à própria sorte para ver o que acontecerá em 2018. Não é o caso.

Falar mal do PSDB é fácil. Os cardeais do partido adoram falar mal de si mesmos. E com razão. Várias vezes o partido tomou decisões erradas, que facilitaram a sucessão de vitórias do PT. A decisão mais equivocada de todas foi a de desvalorizar o extraordinário legado da era FHC. Os tucanos erraram gravemente na campanha de 2014, quando tinham a real possibilidade de derrotar a petista Dilma Rousseff.

Enfim, é passado. O PSDB de hoje, mesmo com as eternas divisões entre seus cardeais, está comprometido com um projeto de país e nem tanto com um projeto de poder. O legado de FHC está sendo valorizado. O partido tem-se movimentado com grandeza e tem-se disposto a colaborar, quando seria muito mais fácil ficar em uma posição “meio barro, meio tijolo” em relação à administração Temer.

Evidentemente, em política, ninguém é bobo. O PSDB calcula que o governo Temer, apesar de todas as dificuldades, pode dar minimamente certo. E, sendo assim, terá crédito para a disputa de 2018. É um partido de quadros, apto a renovar seu software econômico, que dialoga facilmente com a elite e tem sempre uma proposta para governar conectada com o mundo.

A exemplo do que aconteceu com a ascensão de Itamar Franco, em 1992, foi sua a iniciativa de consertar a economia e a ousadia de enfrentar a superinflação, que travava o crescimento, e avançar com a abertura da economia iniciada com Fernando Collor.

Desta vez, além do mais, há distintos e maduros PSDBs ativos na linha de frente do governo. O de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, que desde o princípio apoiaram abertamente Michel Temer, ocupando cargos, aconselhando o presidente e apresentando leis para reativar a economia, como a que mudou o sistema de exploração do pré-sal.

E o de Aécio Neves e dos jovens tucanos nordestinos – Bruno Araújo, ministro das Cidades, e Antônio Imbassahy, ex-líder do partido na Câmara e potencial ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência –, desde o princípio engajados na vertente das ruas do impeachment, que abriu caminho à saída constitucional da crise gerada pelo desgoverno Dilma.

Outro fato é que o PMDB não tem um candidato, além do próprio Temer, para a disputa. Já o PSDB aparece com pelo menos três: os já citados Aécio Neves e José Serra e o governador paulista, Geraldo Alckmin, franco-atirador vitorioso na eleição municipal. Por fim, avalia-se que, mesmo com problemas na Lava Jato e no Tribunal Superior Eleitoral, a possibilidade de Temer cumprir o mandato até o fim é amplamente positiva. E o PSDB seria dos maiores beneficiários de tal feito.

Publicado n’O Tempo em 18/01/2017

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