PSDB: o acirramento da crise interna


A decisão do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de destituir Tasso Jereissati (PSDB-CE) da presidência interina do PSDB nacional, indicando para o seu lugar o ex-governador Alberto Goldman (PSDB-SP), acirrou a crise interna no ninho tucano.

Como Tasso será candidato ao comando nacional do partido na convenção marcada para nove de dezembro contra o governador Marconi Perillo (PSDB-GO), Aécio justificou sua decisão alegando que havia a necessidade de dar maior isonomia à disputa. Porém, a deliberação de Aécio embute outras motivações.

Tasso foi nomeado interinamente por Aécio para a presidência do PSDB depois que o senador mineiro foi atingido pela Operação Lava-Jato. Naquela oportunidade, Tasso representava uma ala que não pertencia nem aos tucanos mineiros nem aos paulistas. Além disso, Tasso foi escolhido para que o comando do PSDB ficasse com um senador. Porém, aos poucos, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), apoiado pelo ex-presidente FHC (PSDB) e também pelos chamados “cabeças pretas”(como é conhecido o grupo mais jovem de deputados federais do PSDB), começou a se aproximar fortemente de Tasso.

A partir de então, Tasso, FHC, Alckmin e uma parcela importante da bancada federal começou a defender o desembarque do partido da base do governo Michel Temer (PMDB). Tal movimento desagradou a Aécio Neves, ao senador José Serra (PSDB-SP), aos ministros Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Bruno Araújo (PSDB-SP) e aos demais representantes da ala governista do PSDB. Assim, Aécio e Tasso começaram a se afastar.

Aparentemente, a escolha de Alberto Goldman parecia contemplar o PSDB paulista. No entanto, a decisão de Aécio ampliou o racha interno. Quando do anúncio da destituição de Tasso, Goldman já estava em deslocamento para Brasília. Ou seja, Goldman já sabia da intenção de Aécio. Como Goldman é próximo a José Serra, é possível que essa articulação de Aécio tenha o aval de Serra e de demais membros do chamado PSDB governista.

Como consequência, Aécio acabou rachando o PSDB de São Paulo, já que lideranças expressivas como FHC e Alckmin não tinham conhecimento da manobra. Mais do que isso, FHC e Alckmin se posicionaram publicamente contra a saída de Tasso da presidência.

Tensão qualquer que seja o resultado da eleição

Assim, o embate entre Tasso Jereissati e Marconi Perillo no dia 9 de dezembro ocorrerá em clima de grande tensão. Apesar de Alberto Goldman defender a unidade partidária, parece cada vez mais difícil um entendimento no PSDB. Quem perder a convenção poderá, no limite, até mesmo projetar um futuro político em outro partido.

Caso Perillo seja o vencedor, Aécio Neves e a ala governista do PSDB se fortalecem. Além de os tucanos ficarem mais próximos do governo Michel Temer, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que havia perdido espaço na disputa pela candidatura ao Palácio do Planalto, poderá voltar ao jogo, principalmente se houver um entendimento com PMDB e PSD no plano nacional em torno da chamada frente de centro. Essa composição deve ter José Serra como um dos protagonistas, principalmente nas negociações com PMDB e PSD. Como consequência, o grupo liderado por FHC, Tasso, Alckmin e os “cabeças pretas” deverá reavaliar seu futuro político no PSDB.

Por outro lado, se Tasso for o vencedor, é possível que o PSDB anuncie o desembarque da base aliada. Mesmo que os ministros tucanos tenham que deixar seus cargos, o partido deverá continuar votando com o governo Temer, principalmente nas matérias de impacto econômico, como a Reforma da Previdência. Nesse cenário, Geraldo Alckmin ganhará cada vez mais força como presidenciável.

Independentemente do desdobramento dessa disputa interna, o governo Temer tende a continuar tendo uma parte do PSDB votando com o Planalto. No entanto, o resultado da disputa entre Tasso x Perillo tem potencial para interferir no posicionamento do partido em 2018. Com Tasso no comando, o PSDB ficaria mais distante do Planalto; com Perillo, o alinhamento com o PMDB nacional será maior.

Saídas da crise

Outra possibilidade que não podemos descartar é o PSDB trabalhar na construção de uma saída negociada para a atual crise. Não foi por acaso que na última sexta-feira (10), o presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, anunciou a criação de uma comissão eleitoral para tentar pacificar o partido. A comissão é composta por Goldman, o secretário-geral do partido, deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP), próximo a Geraldo Alckmin, o diretor de gestão João Almeida e representantes de Tasso Jereissati e Marconi Perillo.

Posteriormente ao anúncio de Goldman, o ex-presidente FHC passou a defender que Alckmin assuma à presidência nacional do PSDB. Indo nessa mesma linha, o presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Anibal, declarou ser “muito provável” que Alckmin assuma o comando nacional tucano.

Caso aceite o desafio, Geraldo Alckmin dará um passo importante na construção de sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2018. No entanto, terá o desafio de gerenciar uma clima interno bastante conturbado. Outra questão importante a ser destacada é que, se Alckmin aceitar assumir o PSDB nacional, cresce a possibilidade da sigla deixar a base de apoio do governo Temer.

Talvez por isso Aécio Neves tenha afirmado no sábado (11) que “há o convencimento de todos nós que está chegando o momento da saída do governo”.

Capa: Nani para humorpolitico.com.br

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