Superada a denúncia, o presidente Michel Temer terá que negociar com sua base a votação das matérias que integram o ajuste fiscal. Ao vencer a votação de duas denúncias na Câmara, Temer deixa evidente sua capacidade de articulação. Porém, é explícita a necessidade de reconstruir o diálogo com a base.
Na votação desta quarta-feira (25) ficou claro o desgaste entre o Planalto e seus aliados. Se considerarmos os principais partidos da base (PMDB, PSDB, DEM, PP, PSD, PR, PTB e PSC), eles deram 74 votos contra o presidente.
Esses 74 votos somados às ausências (11) e abstenções (2) e aos votos que o presidente teve a seu favor (251) totalizam 338 votos. O número é superior aos 308 necessários para aprovar a Reforma da Previdência.
Na avaliação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é difícil aprovar mudanças na Previdência por proposta de emenda à Constituição com a atual base. E está claro que uma Reforma da Previdência ampla não será aprovada no Congresso Nacional na gestão Temer.
Mas alguma mudança é possível. Logo após a votação da denúncia, Maia disse que será preciso focar na idade mínima e na aposentadoria dos servidores públicos.
Maia terá papel fundamental. Durante a votação da denúncia, por exemplo, ele foi muito importante para segurar a sessão e viabilizar o desfecho do assunto. A Arko Advice falou com o relator da Previdência, Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), e ele informou que quem irá decidir a Previdência será Rodrigo Maia.
Com relação aos dissidentes, os 23 deputados do PSDB que votaram contra Temer na segunda denúncia têm grandes chances de votar a favor da Reforma da Previdência. Assim como os sete deputados do DEM.
A grande dúvida fica com os dissidentes do Centrão – PSD (18), PR (10), PP (6), PSC (4), PTB (3). O presidente Temer e Rodrigo Maia teriam que abrir intensa negociação com o grupo para convencê-los a aprovar uma reforma mais enxuta, além de outros projetos do ajuste fiscal.
Considerando que resta menos de dois meses para o recesso parlamentar, que começa dia 22, e ano que vem é ano eleitoral, seria importante o governo considerar a hipótese de uma convocação extraordinária em janeiro.
Afinal, a partir de abril, quando muitos ministros, governadores e detentores de cargos nos executivos estaduais e municipais que desejam concorrer às eleições de outubro terão que deixar seus cargos, será muito difícil aprovar temas polêmicos no Congresso.