A possibilidade de o ex-presidente Lula (PT) ser impedido de disputar as eleições presidenciais de 2018, como consequência de uma condenação no TRF-4, deixa o cenário político ainda mais imprevisível. Essas incertezas afetam não apenas Lula e o PT, mas também atores como o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Além deles, partidos que serão cobiçados para alianças passarão a viver um “compasso de espera” até a decisão final sobre o destino político de Lula.
Mesmo desgastado, Lula é hoje o único nome capaz de unir as forças de esquerda. Sem o ex-presidente no páreo, o PCdoB, aliado histórico do PT, poderá apoiar outra candidatura ou então levar adiante a pré-candidatura da ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS). O PSOL, mesmo que Lula saia candidato, acredita que o líder do MTST, Guilherme Boulos, tenha espaço para crescer diante da ausência do ex-presidente. Também não pode ser totalmente descartada a possibilidade de o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa se filiar ao PSB, aliado dos petistas até 2010, e concorrer por esse partido. Ou seja, sem Lula o PT terá grande dificuldade de atrair aliados.
Nova liderança no PT é possível?
A impossibilidade de Lula concorrer também traz outros sérios desafios ao PT. O que fará o partido sem seu grande líder? Apostará numa liderança “nova”, como o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), ou abrirá mão de ter candidato próprio e apoiará, por exemplo, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE)? Mesmo que cerca de 20% do eleitorado diga que votaria num candidato indicado por Lula, sua ausência traz o risco de o PT sequer chegar ao segundo turno, transformando-se, quem sabe, num “partido médio”.
Outra questão que ainda precisa ser observada é: sendo Lula condenado ou preso, ele continuaria a se beneficiar da condição de “vítima” ou seu capital político encolheria? Os que mais se animam com a eventual saída de Lula da corrida sucessória são o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) e a ex-senadora Marina Silva (REDE-AC). Segundo as pesquisas, ambos aumentam sua intenção de voto quando o ex-presidente não aparece na disputa.
Marina, Ciro e Bolsonaro crescem sem Lula
De acordo com o mais recente Datafolha, realizado no fim de novembro, sem Lula o percentual de Marina sobe de 10% para 16%. E o índice de Ciro aumenta de 7% para 12%. Até mesmo o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) se beneficia, com sua intenção de voto crescendo de 18% para 21%.
A ausência de Lula na disputa coloca Bolsonaro na liderança e abre espaço para um enfrentamento entre Marina e Ciro por uma vaga no segundo turno. Chama a atenção que Alckmin segue atrás nesse cenário, com apenas 9%. Mas não são apenas as forças de esquerda que se pulverizam sem Lula. No cenário em que o ex-presidente não é candidato o índice de brancos e nulos sobe de 13% para 25%. Partidos de centro e centro-direita também podem se sentir “seduzidos” a lançar candidaturas próprias, pois com cerca de 15% dos votos válidos será possível sonhar com a ida para o segundo turno.
PSDB em crise
Aliás, não é por acaso que a “Coluna Estadão” revelou, na semana passada, que tucanos insatisfeitos com os rumos do partido não descartam a possibilidade de deixar o PSDB. Esse grupo estaria aguardando os movimentos de PMDB, PP, PSD, PR, PTB e PRB para ver quem será o candidato do governo Michel Temer, e assim tomar uma decisão.
Hoje, despontam como opções o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD); o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), caso se filie ao PMDB ou ao DEM até março (prazo da chamada janela partidária); e até mesmo o senador José Serra (PSDB-SP).
O fato é que a ausência de Lula, somada à força que Jair Bolsonaro possui hoje nas pesquisas e à possibilidade de o governo construir um candidato, traz riscos ao PSDB, que tende a apostar em Geraldo Alckmin. Não à toa recentemente o ex-presidente FHC afirmou que gostaria de derrotar Lula nas urnas. Ou seja, a impossibilidade de Lula concorrer traz desafios importantes para o PSDB, como se posicionar nesse possível novo cenário.