Popularidade ainda não é problema para o presidente


É preciso olhar com bastante cuidado as pesquisas de popularidade e avaliação do governo que têm sido divulgadas nas últimas semanas. Elas não permitem apostas em ganho de apoio popular expressivo no curto prazo, mas também não autorizam a impaciência dos pessimistas crônicos.

Em março, quando a ex-presidente Dilma Rousseff estava no exercício da Presidência, a avaliação negativa era de 69%, de acordo com o Ibope. Hoje está em 39%. A CNT/MDA apontava para uma avaliação negativa de 62%. Atualmente, 37%.

Temer herdou uma administração muito mal-avaliada. Mesmo assim, a população tem dado um voto de confiança ao presidente, além de ter melhorado suas expectativas em relação ao futuro. No entanto, ainda existem algumas dificuldades para que a popularidade do governo apresente melhora no cenário de curto prazo.

A primeira delas é que o PMDB, partido do presidente, está passando por um processo de intenso desgaste, com a prisão do ex-deputado Eduardo Cunha e o noticiário negativo envolvendo outras lideranças importantes da legenda. Nesse aspecto, pouca coisa evoluiu depois do impeachment.

Em segundo lugar, a agenda de reformas impõe a necessidade de votação de medidas altamente impopulares, como a PEC do Teto e a reforma da Previdência. Sem contar que a economia continua gerando resultados ruins. Na semana passada, o índice do Banco Central que antecipa o resultado do PIB (IBC-Br) mostrou uma retração de 0,91% em agosto. Foi a maior queda em 15 meses.

O desemprego está em 11,8%, e a previsão é que aumente. Existem projeções indicando que, até o primeiro trimestre de 2017, aproximadamente mais de 1 milhão de pessoas poderão perder o emprego. O desemprego é uma questão que demora muito para ser resolvida. Enquanto isso, as boas notícias, como a diminuição dos juros e a redução do preço da gasolina, ainda não geraram impacto na vida da população.

A percepção das pessoas só começará a mudar quando estiverem seguras de que a inflação está sob controle e a oferta de empregos voltou de maneira consistente. Ou seja, quando houver dados concretos de melhoria no cotidiano. Se as medidas encaminhadas por Temer forem aprovadas, a sociedade deve voltar a ter esperança a partir do final do primeiro trimestre do ano que vem.

No meio político, por enquanto, a baixa popularidade ainda não é um problema para o presidente. Sabe-se que ele só tem dois meses de mandato efetivo, que a turbulência da Lava Jato aumentou e que é preciso acelerar a troca do segundo e do terceiro escalões. É muito pouco tempo e excesso de problemas, expectativas contraditórias a serem coordenadas.

Na reta final do governo passado, argumentava-se que a elevada taxa de emprego compensava a repetição de índices ruins nos demais segmentos da economia. A administração Dilma aferrou-se a esse discurso como garantia de que sua política estava correta. Hoje, funciona ao contrário. A maioria dos indicadores aponta para a recuperação, mas o nível de ocupação não reage.

É outro fator a cobrar paciência e equilíbrio do presidente da República. Além dos naturais estremecimentos na base aliada, dos solavancos causados por um sistema político em fase de restauração e de uma Justiça que está passando o país a limpo, é preciso transmitir confiança à população. São exigências superiores à qualificação técnica e à experiência. Pedem inspiração e perspicácia para enxergar além, onde a maioria só consegue ver desalento.

Publicado n’O Tempo em 26/10/2016.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais