Política Externa de Estado vs. Política Externa ideológica


 

Nos últimos 13 anos e sete meses sob governo do Partido dos Trabalhadores, vimos a implementação de um modelo de Política Externa ideológica que privilegiou as relações com parceiros políticos alinhados sob o manto do mesmo discurso dito progressista e libertador. Trocou-se o pragmatismo e a Política Externa de Estado por um arremedo de diplomacia que associou o Brasil à regimes autoritários e violadores.

Em alguns momentos, esta Política Externa produziu resultados positivos e é preciso destacá-los, como a criação do grupo de amigos da Venezuela que restituiu Hugo Chávez à presidência daquele país após um golpe de Estado ridículo.

Da mesma forma, criou-se a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) que em seus primeiros anos, foi decisiva para pôr fim a tensões na vizinhança. Destaque para as constantes crises entre a Colômbia de Uribe e a Venezuela de Chávez. O Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), um dos mecanismos da UNASUL, nasceu também desta Política Externa em certos aspectos e momentos, altiva, para dar ponto final às desconfianças e rivalidades regionais.

A criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) também pavimentou a reinserção de Cuba no sistema político internacional. Seria um exagero dizer que foi a semente para a normalização de suas relações com os Estados Unidos, mas teve seu momento positivo.

Por outro lado, o Brasil sob Lula e Dilma foi complacente com os arroubos de Evo Morales, os chiliques de Cristina Kirchner e, principalmente, conivente com a escalada autoritária na Venezuela. Também mancha a história da nossa diplomacia o suporte à suspensão do Paraguai do MERCOSUL em 2012, um capítulo sombrio eivado de oportunismo ideológico.

Agora, o Brasil tem um novo governo. Michel Temer é reconhecido por sua habilidade política de costurar acordos e não permitir que divergências se transformem em crises. É um conciliador e parece disposto a fazer vistas grossas para certos exageros em nome do necessário pragmatismo. Sua Política Externa promete priorizar as relações econômico-comerciais.

Poucas horas após sua posse como presidente para os próximos dois anos e quatro meses, ele já estava no avião com destino à China onde firmou onze acordos comerciais. Seu debut não foi num país vizinho, mas na reunião do G-20 cujo protagonismo é cada vez maior.

Temer já anunciou que estará na abertura da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, no final do mês e na próxima cúpula dos BRICS, em Goa, na Índia, em outubro. É possível que prestigie ainda em outubro, a Cúpula Ibero-americana a realizar-se em Cartagena de Índias, na Colômbia.

Ao que tudo indica, ele parece disposto a contrapor o discurso de golpe com trabalho, diálogo e cooperação. Neste sentido, substituirá a malfadada Política Externa ideológica, para reaver a velha e sempre necessária Política Externa de Estado, onde a diplomacia se põe a serviço dos interesses nacionais e não partidários. José Serra o havia antecipado logo que desembarcou no Itamaraty.

A diferença é que Michel Temer pretende priorizar tudo o que pode beneficiar o conjunto dos interesses e objetivos do Brasil, posicionando-se num meio termo entre a política exterior de Lula que disparava para todos os lados e a de Dilma que foi relegada à quase inércia.

E, mais importante, ao aprofundar o relacionamento com parceiros tradicionais como os Estados Unidos, o Japão, a Argentina, e a União Europeia, o Brasil não deixará de relacionar-se com atores relevantes como Rússia, China, e Índia. Tampouco irá ignorar o potencial econômico e comercial na América Latina e na África.

Espera-se que Michel Temer lidere este esforço que sinaliza uma diplomacia presidencial fundamental para recolocar o país nos trilhos, como anunciou em sua primeira reunião ministerial.

 

 

 

 

 

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