Desde a crise da demissão do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, a política contaminou o ambiente com um clima de perplexidade que afeta negativamente a economia. De repente, os segmentos que apoiam o governo Michel Temer foram tomados pela percepção de que a recuperação econômica deverá demorar mais do que se imaginava.
O problema não estaria na receita de política econômica, mas nas características da recessão atual, diferente das anteriores. Naquelas, o nível de endividamento era baixo por causa da superinflação, sendo, portanto, mais fácil sair do buraco. Hoje as empresas e as pessoas estão muito endividadas e não voltarão a investir e consumir antes de quitar suas obrigações.
Esta semana, a divulgação das estatísticas desfavoráveis sobre desempenho do PIB, o crescimento da indústria e o desemprego coincidiu com entrevistas de representantes do mercado, do setor produtivo e de técnicos do governo. Estão todos pessimistas a respeito das projeções para 2017.
Os únicos dados positivos esperados para o ano que vem são os relativos a inflação e a juros Selic. O IPCA de 2017 está sendo estimado em 4,2% frente aos 6,6% que deverão fechar este ano. Graças ao endurecimento da política monetária, mesmo quando o cenário recessivo aconselhava o contrário, aos poucos os preços, que ameaçavam repetir 2015, cederam. Agora apontam para um percentual dentro da meta de 4,5%.
Diante disso, na sua última reunião do ano, no mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou pela segunda vez (mais 0,25%) a Selic, reduzindo a taxa anual para 13,75%. Deverá prosseguir nesse caminho no ano que vem, até chegar a 10% no final do primeiro trimestre.
Para a evolução do PIB, as perspectivas apontam na direção oposta. O governo reduziu recentemente sua estimativa de 1,6% para 1%, mas o mais provável é que ele não passe de 0,5% em 2017, número mais realista.
Principalmente depois da divulgação, por parte do IBGE, de nova queda no comportamento da indústria, que recuou outra vez em outubro. Na comparação com setembro, a produção caiu 1,1%, segundo o IBGE. Nos últimos 12 meses, o setor apresenta desempenho negativo de 8,4%. Não há indicação de melhora para 2017.
O número de desempregados continua aumentando, com recorde de 12,04 milhões de pessoas no trimestre encerrado em outubro, conforme o IBGE, o que significa um aumento de 32,7% em relação ao período anterior. Com isso, a taxa de desemprego continuou no patamar de 11,8% no trimestre fechado em outubro.
Assim deverá continuar pelo menos até o segundo semestre do ano que vem, uma vez que se trata de um dos últimos indicadores a reagir de forma positiva, em especial diante de ausência de melhoria econômica, quadro que deverá se manter até o início do terceiro trimestres de 2017.