‘Não há caos na Casa Branca”. “O Ocidente nunca quebrará”. “Falarei com a Itália nesta manhã!”. “Ontem falei com o rei da Arábia Saudita”. “A Coreia do Norte acabou de lançar outro míssil. Esse cara não tem nada melhor para fazer da vida não?”. “Proporções epidêmicas. 1714 tiroteios em Chicago neste ano!”. “Apesar da constante imprensa negativa covfefe”.
Começou a esmagar a bola do jogo obcecado, e às vezes enigmático, do presidente americano. Sacando para milhões de seguidores, bateu contra o paredão do Instituto de Direitos Civis da Universidade de Colúmbia, que o processou na Corte de Nova York por comportamento inconstitucional. Acusado de bloquear pessoas que não aceitam levar boladas como parede inerte, pode ser forçado a reverter todos os bloqueios feitos pela sua conta.
A Justiça entende que pessoas oficiais que usam redes sociais como fórum público não têm o direito de suprimir comentários ou excluir alguém de participar.
Twitter e Facebook
Em 2006 foi lançada a pequena pérola das mídias sociais, o Twitter. Como joia, é doentia e valiosa. Lembra o squash, o jogo preferido de prisioneiros e executivos. Todas as frases acima são de Donald Trump, o rei do Twitter. Chacoalha o mundo e adora intimidar a imprensa. Melhor não selecionar as indecorosas. A coisa toda é uma “atmosfera”!
Moisés Naím viu seu livro “O fim do poder” estourar de vender depois que foi escolhido por Marck Zuckberg, o grande emergente da hora, para inaugurar o clube de leitura de sua empresa, o Facebook, outro monstro das bobagens cotidianas.
Na penúltima eleição americana, o Facebook foi essencial para a vitória de Obama. Mas quando bateu de cara com o Twitter de Trump, não conseguiu ajudar Hillary. A tese de Naím aponta alguns porquês do poder dessas capelinhas eletrônicas que dominam a linguagem do mundo ao sabor da moda. E que os políticos, escravizados, imaginam dominar.
Notícia, política e consumo por impulso
Lançar luz sobre o contexto Trump não é fácil. Vários estudos de caso são necessários para entender sua chegada ao poder brigando com a imprensa. Um desses casos foi publicado na última edição da revista “New Yorker”.
A reportagem relata a radical opção pró-Trump feita pela American Media, corporação que detém uma série de revistas e jornais do gênero sensacionalista.
Vendidos perto dos caixas de supermercados e lojas de conveniência, a quase totalidade de sua renda vem da venda à vista, ali na hora. Sobrevivem por causa do mesmo tipo de impulso que leva uma pessoa a incluir guloseimas desnecessárias entre suas compras enquanto espera na fila do caixa.
Esses tabloides dependem visceralmente do impacto de sua capa. Como o Twitter, o negócio é impressionar inocentes.
O jeitão de Trump no Twitter o faz mais próximo da população que vive a vida dura de ringue e luta. Especialmente porque a linguagem associada à figura presidencial e à política é aquela empostada e distante da vida real. Por mais absurdo que seja, Trump parece romper esse filtro que protege figuras públicas.
Mas, entregue de forma tão deslumbrada à lógica das revoluções da comunicação, os EUA podem estar diante de um presidente que não sabe bem para onde está levando o país.