O presidente do Senado, Renan Calheiros, poderá decidir hoje se acata mais um pedido de impeachment contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O pedido se junta a uma fila de pedidos de afastamento, totalizando 9, tendo sido 4 já arquivados. O último pedido, protocolado pelas advogadas Beatriz Kicis de Sordi e Cláudia de Faria Castro se baseou na prerrogativa de tratamento diferenciado para Lula e Dilma, uma vez que também estariam tentando obstruir investigações da Lava-Jato, sem pedido de prisão de Janot, ao contrário de Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.
A possibilidade de afastamento do procurador-geral da República é tratada com cautela por parlamentares, pois uma vez que o Senado acate algum dos pedidos pendentes, poderá soar como retaliação do presidente da casa, alvo de um pedido de prisão protocolado por Rodrigo Janot. No atual cenário de crise política, o ato poderia gerar ainda mais instabilidade. A pauta é uma das poucas que gera consenso entre partidos diversos, que concordam que aceitar qualquer pedido de afastamento de Janot seria precipitado.
“Não acho que ajuda a pacificar o ambiente. Quanto menos marola, melhor. É um momento que estamos precisando aprovar leis importantes, acho que isso não ajuda” (Aloysio Nunes, PSDB-SP)
“Acho que não é um momento bom para se fazer qualquer tipo de embate. Está tudo muito tumultuado. Acho que a nossa preocupação no momento é fazer com que o Brasil possa retornar ao eixo. Essa questão de impeachment tem que ser avaliada com muita cautela” (Eunício Oliveira, PMDB-CE)
“Não deve passar. Esse tema foi tratado na reunião de líderes, mas não existe apoio. Ninguém concorda com essa agressividade, essa disputa entre os Poderes” (Lindbergh Farias, PT-RJ)
O próprio presidente em exercício, Michel Temer, anunciou que um impeachment de Janot não valeria a pena, mais um indicativo de que o pedido de afastamento não deverá ir adiante. A Procuradoria Geral da República não se manifestou sobre o assunto, mas ainda que dificilmente vá adiante, a possibilidade de impeachment de Rodrigo Janot é um forte indício do confronto entre Legislativo e Judiciário. Renan Calheiros reagiu com irritação ao pedido de prisão na semana passada, criticando fortemente a atuação de Janot e da PGR, mas já mostra um discurso mais brando, tendo dito nos bastidores que passaria a decisão sobre o impeachment ao primeiro vice-presidente do Senado, Jorge Viana.
Para alguns, Rodrigo Janot andou exagerando, com os pedidos de prisão e vazamentos de delações. Segundo o jornal Folha de SP, empresários e investidores andam insatisfeitos com o clima de instabilidade política e econômica que a devassa promovida pela Operação Lava-Jato em causando. A realidade, de fato, tem sido imprevisível, mas apesar das críticas, o governo de Michel Temer vem avançando, ainda que timidamente, em pautas da economia. Se continuar, pode contribuir para atenuar a tensão entre os poderes. Enquanto isso, todos mantem o discurso de “cada um está cumprindo o seu papel”.
Pelo horizonte, tem-se apenas como certo de que mais delações devem vir pelo caminho. A judicialização da República encontra respaldo na sede de justiça do povo e da mídia, e na promessa de um futuro menos corrupto para o país. Ao Legislativo, e aos partidos políticos, a vigília parece ser um denominador comum. “Esperar o melhor, se preparar para o pior, receber o que vier” parece um ditado pertinente para os dias atuais da política brasileira.