O petróleo é nosso


Quando decidiu criar a Petrobras, em 1953, o presidente Getúlio Vargas entregou a tarefa de construir a empresa a partir do zero ao marechal Juracy Magalhães, que, na época, servia como adido militar nos Estados Unidos.

Petróleo era entendido como assunto de segurança nacional. Quem via o mundo por essa ótica eram os militares. Vários deles presidiram a petroleira. O monopólio estatal foi criado pelo Congresso Nacional, com forte apoio da UDN, partido que seria chamado hoje de neoliberal.

O processo confuso de criação da empresa começou a clarear quando Juracy Magalhães contratou o geólogo norte-americano Walter Link, contrato de US$ 500 mil por cinco anos de trabalho, muito dinheiro na época.

Link era o geólogo chefe da Standard Oil of New Jersey (futura Exxon). Começou a trabalhar em 1955. Não havia curso de geologia no Brasil. Ele contratou professores da Universidade de Stanford para ministrar curso de pós-graduação com duração de ano e meio. O curso, em horário integral, era ministrado em inglês.

Esse é o inicio da aventura da Petrobras que sempre se orgulhou da qualidade de seu corpo técnico. O relatório Link foi concluído em agosto de 1960. Chegou a três conclusões básicas:

1) as bacias sedimentares em terra não possuíam reservas de petróleo suficientes para abastecer o país;

2) a Petrobras deveria partir para a exploração no mar (offshore), que demandava tecnologia mais sofisticada;

3) para obter petróleo mais rapidamente recomendava investir nos países árabes onde a produção era mais barata. O relatório foi muito criticado. Somente em 1967 a Petrobras começou a entrar no mar aberto.

Depois criou a Braspetro destinada a investir no exterior. Começou por Colômbia, Madagascar e Iraque. O maior sucesso ocorreu no Iraque onde descobriu, em 1979, o fantástico campo de Majnoon, lençol petrolífero maior de que tudo que há havia sido descoberto naquele país.

O governo local retomou a produção e indenizou a empresa brasileira. Mas por contas das sucessivas guerras o campo só passou a ser explorado a partir do ano 2.000. As decisões brasileiras na área do petróleo sempre foram lentas. A ideologia permeou a discussão técnica.

Na era petista, os companheiros se deslumbraram com o que encontraram. Enorme capacidade de investir, negócios em vários lugares do mundo, presença efetiva em quase toda a costa brasileira. Depois da descoberta do pré-sal, que se estende de Santa Catarina até o Espírito Santo, os olhos petistas brilharam ainda mais.

Paulo Roberto, Pedro Barusco e Renato Duque são apenas nomes que mais apareceram no noticiário Mas eles conduziram as negociatas que envolveram muita gente e inacreditáveis quantidades de dinheiro.

O Partido dos Trabalhadores foi sustentado pelas propinas originadas de verbas da petroleira brasileira. O gasoduto Urucu-Coari-Manaus, obra relativamente simples, sofreu diversos aditivos até multiplicar por oito vezes seu valor original.

Foi tão grande o prejuízo que depois de concluída a obra os técnicos perceberam ser mais barato manter a utilização de óleo diesel nos geradores das termoelétricas em Manaus.

As responsabilidades por este crime continuado, o assalto sistemático aos cofres da Petrobras, não poderia ter ocorrido sem a conivência dos mais elevados escalões dirigentes da empresa. As empreiteiras se organizaram como um clube e os dirigentes da petroleira concordavam com licitações dirigidas e aditamentos sucessivos para elevar preços.

A Petrobras perdeu prazos, mercado e passou a produzir prejuízos. Sua dívida se elevou ao patamar de uma das maiores do mundo. Um desastre abissal.

Vale a pena ler Petrobras, uma história de orgulho e vergonha, da jornalista Roberta Paduan, editora Objetiva. Um belo trabalho que aprofunda o estudo da maior empresa brasileira, sua criação, desenvolvimento. Detalha o assalto petista ocorrido depois da tentativa verificada no governo Collor de saquear a empresa.

Os petistas aprenderam com os erros e quando atacaram, o fizeram com requintes de crueldade. Desmontaram a empresa, enriqueceram o partido e a eles próprios.

Já se sabe, como informado aqui há duas semanas, que operadores de propina não só atacaram cofres do governo federal como também trapacearam seus empregadores. Alguns deles atacaram a propina e entregaram aos beneficiados menos que o combinado.

Não é possível alegar prejuízo se o dinheiro é roubado. Mas as delações, afinal, não vão encontrar um número certo. Será difícil fazer o encontro de contas. Ladrão contra ladrão. Tudo em nome do nacionalismo e do velho refrão: o petróleo é nosso.

 

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