A crise política no Brasil precipitou mudanças que eram esperadas para 2018, mas ainda não produziram os resultados esperados. Uma das preocupações diz respeito à Política Externa, agora, conduzida pelo PSDB, partido que além do Itamaraty, controla ainda as comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
O senador José Serra (PSDB-SP), um dos nomes para 2018, chegou ao ministério das Relações Exteriores dando um novo tom à essa política, sempre criticada pela antiga oposição. O PSDB foi dos mais duros com a ideologização das relações internacionais do Brasil. Instalado no MRE, Serra respondeu àqueles que consideravam o novo governo resultado de um golpe de Estado parlamentar, de forma dura e contundente, mas ficou nisso.
Esperava-se que já nos primeiros dias, o ministro buscasse o diálogo com suas contrapartes na região. Que liderasse os movimentos em torno de um giro político mais pragmático. O ministro foi à Argentina sinalizando a prioridade que o país vizinho teria para o Brasil e à reunião da OCDE em Paris. Recebeu em Brasília, o chanceler paraguaio Eladio Loizaga, e na semana passada, conversou discretamente com o líder da oposição venezuelana, Henrique Capriles. Seus interlocutores deixaram Brasília com poucas certezas.
Brasil e a crise da Venezuela
Ainda não se sabe que papel o Brasil terá na crise venezuelana, como irá tratar o MERCOSUL que cobra mudanças urgentes, de que forma pretende relacionar-se no âmbito de mecanismos ainda bolivarianos como a UNASUL e a CELAC.
Na semana passada, enquanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) se reunia em sua 46ª assembleia-geral em Santo Domingo, Serra estava com dirigentes do BNDES no Rio de Janeiro. A ausência do Brasil não se faz sentir apenas do ponto de vista físico, mas substantivo.
A região ainda espera com grande expectativa conhecer a postura do “novo” Itamaraty. Os sócios do MERCOSUL, por exemplo, sabem que qualquer iniciativa que pretenda mudar as regras do bloco somente será possível se Brasília respaldar. Para tanto, é preciso saber o que o Brasil de Michel Temer quer, seja nas relações regionais, quer nas relações globais.
Ao que parece essa incógnita deverá persistir até que o Senado Federal conclua o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A percepção que se tem é que um governo interino não dará passos contundentes antes de tornar-se um governo permanente, ainda que de transição.
O problema é que essa interinidade acaba comprometendo seriamente o futuro político não apenas do Brasil, mas de toda a região. Gostem ou não, o Brasil é o país que tem as condições econômicas para empurrar a América do Sul em direção aos grandes arranjos comerciais em curso no mundo. Em tempos de crise, são os negócios que vão orientar o desenvolvimento dos países e que impactarão em todos os demais setores.
É preciso assumir essa posição. Nos últimos anos, o Brasil se omitiu, perdeu protagonismo e até mesmo o respeito internacional. Resgatar a força do país como global player é fundamental para que o curso político regional seja outro, diferente e descontaminado dos aspectos mais nocivos da política partidária.