O banco de reservas Petista


Todo bom time de futebol é feito não apenas de 11 jogadores titulares, mas também de um banco de reservas que substitua à altura e mantenha o time em bom nível e com as chances de vitória. Na política, não é diferente.

A condenação de Lula em segunda instância, de maneira unânime, pelo TRF-4, inviabiliza o caminho do ex-presidente ao Palácio do Planalto. O PT tem traçada a estratégia de manter a candidatura de Lula até o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impedi-lo de disputar o Planalto novamente, como preveem ministros da Corte.

Para o PT, é fundamental um substituto que consiga chegar o mais próximo do peso que o ex-presidente teria na corrida eleitoral. Sem um plano B, ou até mesmo sem um candidato à presidência – ou se apoiando em nomes de fora do partido, como Ciro Gomes -, o partido acaba perdendo voz e impacto nas campanhas estaduais e federais.

Cabe ressaltar que o PT não abrirá o jogo sobre o possível reserva imediato de Lula, pelo menos não até agosto. Qualquer nome que seja apresentado por agora fará com que o partido assine um atestado de culpa para o ex-presidente e jogue, de maneira oficial, a toalha na campanha.

Fernando Haddad

O ex-prefeito de São Paulo é um dos nomes mais especulados nos bastidores. Haddad foi o escolhido para coordenar o programa de governo que Lula apresentaria durante a campanha deste ano. Portanto, teria a benção e a confiança do ex-presidente. Haddad é, ainda, um nome que agrada o lado mais à esquerda do partido, inclusive a juventude petista.

Contra o seu nome pesa um inquérito da Polícia Federal, no qual foi indiciado por caixa dois, aberto em 2015 após a delação de Ricardo Pessoa, da construtora UTC. Outro ponto negativo para Haddad é o seu histórico eleitoral recente. Em 2016, foi derrotado na tentativa de se reeleger prefeito de São Paulo, em uma disputa que, de forma histórica, foi decidida ainda no primeiro turno.

Haddad deixou o mandato de prefeito com uma avaliação positiva (ótima ou boa) de apenas 14% da população e uma rejeição (ruim e péssima) de 48%, segundo pesquisa Datafolha de 2016.

A possibilidade de Haddad substituir Lula divide o PT. Se parte do partido defende seu nome, outra é contra, por causa de críticas que o ex-prefeito fez à legenda e à ex-presidente Dilma Rousseff.

Jaques Wagner

Um dos amigos de longa data e mais próximos de Lula, Wagner poderia ser o nome escolhido para ocupar a vaga de candidato à Presidência.

Nome bem visto pela “velha-guarda” do partido, ele é um veterano eleitoral e político de sucesso, tendo sido eleito e reeleito governador da Bahia, além de deputado federal por 3 mandatos, e ocupado os cargos de ministro do Trabalho e das Relações Institucionais no Governo Lula e ministro da Casa Civil e da Defesa no Governo Dilma.

Sua primeira vitória para o governo, em 2006, foi no primeiro turno com 53% dos votos. Em 2010, ele teve 64% dos votos e derrotou Paulo Souto, do DEM, pela 2ª vez consecutiva. Souto sofreria nova derrota em 2014 pelo candidato do governador, Rui Costa, que teve 54% dos votos válidos.

Outro ponto favorável para Wagner é o recente resultado petista na Bahia, no cenário nacional. Em 2006, Lula teve 67% de votos válidos no 1º turno e 78% no 2º. Em 2010, Dilma teve 47% no 1º e 71% no 2º turno e em 2014 foram 61% e 70% respectivamente. Wagner seria o nome certo para aumentar esses números petistas na Bahia.

No entanto o ex-ministro não é um nome que anime as massas de outras regiões do país (e nem mesmo nos outros estados do Nordeste), e até mesmo das alas mais jovens do PT (onde Haddad tem a maioria do apoio). Também pode pesar negativamente a proximidade de Jaques e Lula, o que seria um prato cheio para as campanhas adversárias.

Fernando Pimentel

O ex-governador mineiro foi um dos nomes lembrados por Lula, junto de Jaques Wagner, em agosto de 2017 como possíveis substitutos da campanha presidencial.

Pesa contra Pimentel a própria falta de interesse de brigar pela presidência. Para o governador mineiro, conquistar uma vaga no Senado é visto pelos aliados do petista como uma maneira mais fácil de ser eleito e manter o foro privilegiado, prerrogativa que perderia caso não fosse eleito para outro cargo.

Pimentel é réu na operação Acrônimo. O petista é acusado de corrupção passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. Ele teria beneficiado, em troca de propina, a montadora Caoa e as empreiteiras Odebrecht e JHFS quando era ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Governo Dilma.

Por mais que Pimentel agrade os petistas e seja um nome com vitórias recentes em seu estado, o individualismo pode falar mais alto e fazer com que ele não “entre em campo”.

Gleisi Hoffmann

A atual presidente do PT é quem mais se manifesta em defesa de Lula. O ex-presidente apoiou a candidatura de Hoffmann para comandar a legenda e, em diversos momentos, discursou mostrando confiança em sua capacidade de unir o partido.

Gleisi seria uma nova tentativa do PT de emplacar uma mulher na presidência do país, chamando para si o apoio dos movimentos sociais e a militância mais ativa do partido (com quem a senadora possui relações bem próximas).

O fato de Gleisi e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, serem réus na Operação Lava-Jato pesa contra a senadora. Movimentos antipetistas, como o Movimento Brasil Livre, já pediram em diversos momentos que o STF dê celeridade no julgamento e a condene.

Ela é acusada de receber, de forma ilegal, um milhão de reais para a sua campanha ao Senado em 2010, e o dinheiro seria fruto do Petrolão. Gleisi, obviamente, nega as acusações, mas entende (mesmo que não se manifeste publicamente) que é necessário manter o foro privilegiado e, assim como Fernando Pimentel, deve mesmo decidir por uma reeleição ao Senado.

E a definição?

Mesmo com essas opções, a definição petista para o substituto de Lula será feita, ao menos de maneira oficial, somente aos 48 do segundo tempo, quando o TSE rejeitar sua candidatura com base na Lei da Ficha Limpa.

Existe ainda a possibilidade de Lula concorrer com a sua candidatura sub judice, buscando de maneira forçosa a sua participação na eleição. Essa decisão geraria um clima de instabilidade e maior incerteza dentro do país, independentemente do resultado da eleição.

Fato é que estamos ainda no começo do segundo tempo e muita coisa ainda acontecerá no jogo político para a Presidência da República.

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