O analógico, o digital e o abismo


Enquanto a sociedade caminha celeramente para ser digital, o mundo político continua analógico.

Enquanto o comércio e a indústria se esforçam para entender e atender o que o consumidor deseja, a política insiste em tratar o eleitor com desdém e distância, e com uma narrativa envelhecida e desassociada da realidade, destinada meramente à competição eleitoral.

Temos hoje quase 100 milhões de contas de Facebook. Quase 70% dos usuários de telefonia celular – cerca de 120 milhões de brasileiros – podem estar usando o WhatsApp. Mesmo assim, a política continua tratando o eleitor como se ele fosse analógico.

E, como resposta ao desafio dos novos tempos, propõe mudar o nome dos partidos. Por isso surge agora uma leva de agremiações com novos nomes, como Podemos, Patriotas, entre outros.

Os partidos mudam a roupa mas não o âmago da questão. Continuam mais antigos do que o telefone de manivela. E poucos se importam. A maioria ainda se vale do “deixa estar para ver como é que fica” e do “devagar se vai ao longe”.

Só que o Brasil tem pressa, ainda que o mundo político não tenha. Não à toa a Reforma Política todo ano entra na pauta e não muda quase nada.

A política insiste em ser irrelevante. Descartável e quase abjeta. Não apenas por conta da cidadania deseducada e desinteressada, mas também pelo clientelismo desenfreado e afastado dos princípios. É a política tão somente vinculada a interesses particulares.

Outro dia li que em um debate das esquerdas radicais tinham colocado em um quadro os nomes dos políticos “velhos” e os dos políticos “novos”. O ex-presidente Lula e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tinham sido colocados no rol dos velhos.

Já o ativista político Guilherme Boulos, líder do MTST, e o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) entraram na lista dos “novos”.

Grande ironia. Nessas listas temos de tudo em matéria do que é antigo e arcaico na política nacional. Lula e Aécio são políticos arcaicos e analógicos. Boulos e Freixo também. Nenhum dos quatro é digital. Acho que também nem são analógicos. Vivem no tempo do telefone a manivela e do guaraná de rolha!

A política digital está propondo um novo debate e uma forma mais pragmática de se tomar decisões, fundamentada sobretudo em princípios. Porém, não existem nomes para personificar essa política digital. A omissão de todos nos penaliza.

Boulos e Freixo acreditam na utopia socialista. Lula e Aécio em utopias particularistas. Nenhum deles funciona para os novos tempos. Assim, sem políticos para os novos tempos, continuaremos a ser irrelevantes para nós mesmos. Enquanto isso, ocorrem cerca de 155 homicídios por dia no Brasil.

Publicado no Blog do Noblat – 24/08/2017

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