Nova dinâmica da crise antes da votação definitiva do impeachment


O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), previu que será necessário praticamente o dobro do tempo estimado pelo senso comum para a votação definitiva do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Setembro é a data que está na cabeça dele, quando até aqui trabalhava-se com o fim de junho.

É claro que tanto a dinâmica do afastamento quanto a crise entraram numa etapa mais complexa depois que a Câmara aprovou a licença para que a presidente seja processada. A começar pela constatação de que desde segunda-feira, 18, o presidente da República, de fato, é o senador Renan Calheiros, senhor do tempo e da razão que ditam os parâmetros de tramitação do processo.

A presidente Dilma Rousseff sofreu uma incontestável derrota de 367 a 137 votos e perdeu definitivamente as condições de gerir a agenda com o Congresso. Mas o vice-presidente Michel Temer (PMDB), favorecido por tal maioria, não detém os instrumentos de operação administrativa indispensáveis à condução do país.

Refiro-me aqui principalmente ao governo da economia, no qual se acumulam gravíssimos problemas que inviabilizam o dia a dia dos negócios. Passou da hora a construção de um pacto de confiança capaz de restaurar os fundamentos econômicos travados há quase um ano e meio.

A tensão social provocada por grupos pró e antigoverno, com possibilidade de greves patrocinadas por servidores públicos e sindicatos que apoiam a presidente, tende a aumentar. São muitos os motivos para ter pressa, sendo que o principal deles é que, enquanto aumenta o poder de Michel Temer, para a presidente Dilma Rousseff as perspectivas são cada vez mais de “carta fora do baralho”.

Admitido o processo por parte do Senado, a presidente é automaticamente afastada, o que deve acontecer em no máximo 15 dias. Com isso, há o risco de se estabelecer uma espécie de “coabitação tropical”, com duas fontes de poder – a do presidente em exercício e a da presidente afastada. Até aqui, conhecia-se a coabitação à francesa, mecanismo típico do semipresidencialismo do regime parlamentarista que vigora por lá, quando o presidente pertence a um partido diferente daquele ao qual se filia o primeiro-ministro.

Afastada, a presidente não manda de fato, mas pode dar entrevistas, receber apoio de correligionários, conviver com manifestações de rua etc. Nesse ambiente, a natural paralisação da economia contribuirá para dificultar o processo de sua recuperação, fazendo com que a solução se arraste.

A imprevisibilidade da operação Lava Jato permanecerá transmitindo forte tensão à vida política e administrativa. Apesar do cacife político adquirido com a derrota do PT, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deve se transformar na bola da vez do julgamento político.

O placar de aprovação da licença para que o Senado processe a presidente Dilma Rousseff deixa evidente seu isolamento político. O jogo no Senado começa de forma muito desfavorável ao governo. O risco de impeachment sobe de 70% para 80%, o que implicará, entre outros ingredientes:

  1. intensa batalha jurídica por parte do governo para tentar reverter a decisão e/ou reduzir os riscos de avanço do processo no Senado;
  2. mobilização política de aliados e de movimentos sociais com o objetivo de desgastar Michel Temer e Eduardo Cunha;
  3. tentativa de cooptação de senadores com o objetivo de evitar a aprovação da admissibilidade do processo.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais