Enganou-se quem acreditou que, preocupados com a corrosão de suas chances na eleição do 2018, os tucanos haviam produzido um fato político destinado a unir o PSDB, com a designação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para a presidência do partido.
Vinte e quatro horas depois desse anúncio, a mídia de todos os gêneros estava lotada de notícias sobre uma nova modalidade de briga interna tucana – qual o melhor programa para o partido.
Impasse técnico: economistas versus políticos
Há um mês, os economistas da legenda, entre eles autores do Plano Real (o maior sucesso de combate à inflação e reeleição de um presidente), escreveram uma carta ao então presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati.
Propunham a defesa da “ética e de reformas com três eixos básicos: abertura da economia; desburocratização, no sentido de um estado a serviço do cidadão; e privatizações, com a retomada de um crescimento sustentável e equitativo”.
Mas para evitar a implosão do partido na convenção marcada para dezembro, o ex-presidente Fernando Henrique, que se mantém o cérebro do PSDB, interveio. Afastou Tasso e “nomeou” Geraldo Alckmin.
Diferentes visões dentro do tucanato
O braço econômico do governador, José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), pôs na rua uma resposta àqueles tucanos históricos. De acordo com esse documento, o estado não deve ser “nem máximo, nem mínimo, pois esse é um falso dilema. Tem de ser musculoso, eficiente”.
O texto fala em “choque de capitalismo”, redução da máquina e estabelece a meta de dobrar a renda per capita dentro de 20 anos. Para os não especialistas, os dois programas querem dizer quase a mesma coisa, pois sua grande preocupação é com a questão social, um aspecto que jamais inquietou os tucanos, segundo seus críticos. Estaria aí a principal razão da derrota para o PT, que levou o tema ao extremo do populismo e com isso ganhou três eleições seguidas, ficando dez anos no poder.
Enganou-se de novo quem viu nos dois programas semelhança e alinhamento. Os economistas partidários de Fernando Henrique, que desfrutam de espaço nobre na mídia, patrocinaram um duro ataque ao texto do tucano José Aníbal, homem forte do time de Alckmin.
A economista Elena Landau, uma das autoras da proposta encampada por Tasso, fez uma frase demolidora: “É um discurso velho, cheio de platitudes. Quando cheguei na frase ‘nem estado mínimo, nem máximo, estado musculoso’, quase parei ali”.
Antecipação da campanha eleitoral de 2018
Essa nova querela, a saída do PSDB do governo Temer, a renúncia de Luciano Huck, a presença diária de Jair Bolsonaro na mídia falando de economia, a entrada do ministro Henrique Meirelles nas redes sociais e outros eventos crivados de fortes emoções políticas são, na verdade, a antecipação da campanha eleitoral de 2018 de uma forma que nunca se havia visto.
Segundo o TSE, como propaganda autorizada ela vai de 16 agosto a 30 de setembro, um prazo curto demais para os políticos tradicionais, que de forma muito lenta vão se adaptando à nova forma de fazer campanha pela internet.
Em entrevista ao Estadão, o economista Edmar Bacha, principal autógrafo do programa de governo submetido a Tasso Jereissati, explicou o que está acontecendo. “Acho que as pessoas ainda não se deram conta de que teremos uma eleição inglesa, o que eles chamam de “snap election”, no sentido de que, apesar de todo esse longo preâmbulo, de campanha mesmo serão 35 dias”.
Ele acha que as mensagens que chegarão até o Brasil profundo não serão mais os longos programas eleitorais, e sim os spots (anúncios de 30 segundos) na rádio e na TV. “Que tempo terá Marina, que tempo terá Bolsonaro? Zero! Quem vai ter tempo é o Lula. E o PSDB, se se aliar com mais três ou quatro”, raciocina o economista, agora travestido de estrategista político. Então, é tempo de fazer muito barulho na mídia.