Murillo de Aragão: Legislativo está muito dividido


Leia a íntegra da entrevista do cientista político, Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice, publicada pelo Estadão em 12 de Agosto:

A margem apertada pela qual o distritão foi aprovado na comissão especial da reforma política indica uma Câmara dos Deputados dividida em torno das novas regras eleitorais. A análise é do cientista político Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice. “Existem deputados que só se elegem porque existe o sistema proporcional.” Segundo ele, a reforma política deveria aprovar o voto distrital misto a partir de 2022. Abaixo, leia os principais trechos da entrevista ao Estado.

Como o senhor avalia a reforma política que está sendo discutida? Há avanços em relação ao sistema atual?

Se o voto distrital misto for aprovado para 2022 será um grande avanço. Para agora não há tempo, tem de haver uma transição. Esse seria o ponto alto da reforma. Mas deveria aprovar também a proposta de emenda constitucional (do senador Ricardo) Ferraço que veio do Senado e proíbe coligações, além de instituir uma cláusula de barreira. Isso seria importante, e não ficar apenas na proposta da Câmara. Se o distritão for aprovado, já elimina um pouco a proibição de coligações, mas não sei se o distritão passará no plenário.

A comissão aprovou o distritão com uma margem apertada de votos (17 a favor e 15 contra). O que isso significa?

Está muito dividido porque é evidente que existem deputados que só se elegem porque existe o sistema proporcional. O distritão é o ideal? Não, não é. O ideal é o distrital misto. Mas o distritão é melhor que o proporcional, no qual um deputado como Tiririca ou (Celso) Russomanno carrega outros deputados.

Uma crítica é que o distritão enfraquece os partidos. O senhor também vê dessa forma?

Não, porque os partidos já estão fracos. O sistema partidário já está fragmentado. Se esse sistema proporcional permitiu a pior fragmentação na história dos Congressos dos parlamentos do mundo, por que o distritão seria pior?

Por que, na sua visão, o distrital misto é o mais indicado?

Por duas razões. Primeiro porque fortalece o partido e a representação da comunidade, do distrito. O deputado que você vai votar é do distrito, você conhece. Isso trará a política para perto da sua casa. Em segundo lugar, o distrital misto também permite que o partido busque uma identidade.

O fundo é a melhor maneira de se financiar campanhas?

Acho horrível esse fundo de R$ 3,6 bilhões. Não concordo.

Acredita que a reforma terá resistência no Senado?

Acredito que o Senado avançou onde poderia avançar, o fim da coligação. Se for manter o sistema proporcional, você tem de acabar com a coligação. Ou você vai para o distritão, que entra o mais votado, ou você acaba com a coligação no proporcional. E em um segundo passo, votação por distrital misto.

Publicado pelo Estadão em 12/08/2017.

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