Mesmo com problemas, Jogos Olímpicos devem funcionar


A escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos em 2016 foi o fruto de uma pesada campanha de marketing, promovida pelo governo do então presidente Lula, e deixou para trás candidatos potenciais: Chicago, Tóquio e Madrid. O Brasil vivia um clima de otimismo, em meio ao crescimento de mais de 5% do PIB no ano anterior, e a candidatura parecia uma boa oportunidade de firmar o país como um grande centro perante o mundo.

A poucos dias do início dos jogos, a realidade é diferente: escândalos de corrupção, decréscimo do PIB, crise econômica, violência urbana, infraestrutura precária e a ineficiência da gestão pública desconstroem a imagem do Brasil próspero vendida à época da disputa. O cenário negativo, contudo, provavelmente não será um impedimento para que o evento transcorra normalmente, tal como ocorrido com a Copa do Mundo em 2014, antecedida por manifestações, problemas com obras em estádios, e denúncias de superfaturamento.

Os governos, tanto do Rio de Janeiro quando Federal, tem como estratégia não poupar esforços para evitar constrangimentos, e promover uma grande festa, exaltando o povo brasileiro, a hospitalidade e o clima de alegria. Assim, espera-se superar problemas estruturais, e divulgar uma imagem positiva do Rio como destino turístico, minimizando o saldo negativo.

Se por um lado o turismo pode se fortalecer, o discurso do legado positivo é problemático, e sugere que os Jogos Olímpicos podem ser ruins para a economia brasileira. As obras que poderiam ser vistas como uma possibilidade de investimento para a população são precárias e podem nem ser concluídas, fora as denúncias de superfaturamento. A Copa em 2014 também deixou obras inacabadas, como por exemplo, o sistema de transporte em Cuiabá, uma das cidades-sede.

Para o especialista da Universidade de Barcelona, Emilio Fernandez Peña, o investimento só funciona se for visto como um plano para a cidade como um todo, não apenas uma obra pontual, destinada a servir o evento. Ele exemplifica com a expectativa que se tinha de que Manaus se tornaria um polo turístico fortalecido após as obras e os jogos ocorridos lá, mas o fato é que a cidade caiu no esquecimento após o fim da Copa, pouco tendo alterado seu fluxo de turistas.

A expectativa, portanto, é a de um legado mirrado, e de constrangimentos que já estão acontecendo, como o problema da recepção à equipe australiana, ou a corrida contra o tempo na limpeza da Baía de Guanabara. Assim mesmo, no fim, os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro devem funcionar. O histórico mostra que os serviços públicos, que funcionam com precariedade no dia a dia, funcionam muito bem no contexto de grandes eventos.. Os problemas não são exclusividade do Rio, e mesmo as edições mais elogiadas, como a de Barcelona e Atlanta, tiveram seus problemas nos primeiros dias, até que a normalidade se estabelecesse.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais