(Mais) Dois equívocos de Dilma Rousseff


A ex-presidente Dilma Rousseff acha que o PT deve perdoar os “golpistas” que lotaram as ruas em favor de sua destituição. “Acho que perdoar golpista é perdoar aquela pessoa que bateu panela achando que estava salvando o Brasil“, afirmou a ex-mandatária em entrevista à Deutsche Welle, da Alemanha.

Na curta entrevista divulgada, há pelo menos dois equívocos e uma incoerência. Fossem fruto exclusivo de sua lavra, não mereceriam esforços analíticos.

Ocorre que o pensamento da mandatária do vocativo imposto – “sim, senhora presidenta” – reflete estratégia político-eleitoral do PT. Na verdade, de Lula, a insubstituível âncora eleitoral. Sem a intenção de se tornar um PCO, contra tudo e contra todos, a sigla retorna lépida ao pragmatismo eleitoral.

Aqueles que se indignaram com a deposição da atrabiliária senhora e nutriam a esperança de que o PT voltasse às origens, melhor buscar outra sigla. O PT, enquanto Lula for o comandante, trilhará o caminho mais conveniente e curto da volta ao poder.

Meliantes do erário

O primeiro equívoco da ex-presidente foi o de chamar manifestantes de “golpistas”. Se “golpe” tivesse havido teria sido perpetrado por velhos aliados, como os do PMDB, e a camarilha com a qual o PT governou por 13 anos.

A gente das ruas exerceu o direito democrático de protestar. O direito de se indignar com uma mandatária incapaz e revoltar-se contra um partido que – como revelado, primeiro no Mensalão, agora na Lava-Jato – se enlameou na corrupção.

A insurreição de cidadãos, poucas vezes antes vista, que acorreram às ruas foi consequência da exaustão com a corrupção desvelada pelo Mensalão e pela Lava-Jato e a situação econômica em acelerada degeneração. As manifestações gigamensas que tomaram avenidas de capitais país adentro bradavam contra a infestação do Estado por meliantes do erário.

Eis o segundo equívoco. Entronizar Michel Temer presidente da República não era o alvo das massas. Primeiro, porque o mandatário-tampão não é líder popular. Segundo, porque o único brasileiro que podia impedir que o vice-presidente assumisse a Presidência, em caso de vacância, era Michel Temer.

A aliança PT-PMDB não foi imposta ao PT, mas trabalhada com afinco pelas duas siglas. O pacto de ambos se estendia para lá da administração pública. Incluía os métodos heterodoxos eviscerados pela Lava-Jato.

Então, não se surpreenda, eleitor, se a aliança for reeditada. Será consequência do pragmatismo companheiro.

Petista honesto

Quem de fato planejou a ascensão de Temer foi, além do próprio, PMDB, PSDB e o Centrão. Parcela majoritária das lideranças políticas do Congresso Nacional encamparam a destituição de Dilma. Não o fariam, porém, se as ruas não o desejassem.

O cansativo discurso do “golpe” esbarra na lógica comezinha. Sustenta-se como lenitivo ao declínio da sigla que representava a esperança de milhões e como método propagandístico. Ao adotá-lo, o PT municia a militância, que, assim, pode fugir do incômodo debate sobre o desastroso Governo Dilma.

Sob o sigilo do confessionário das lamentações, leitor, o petista honesto admitirá o maior erro da história da sigla: eleger e reeleger Dilma. Para um partido que dispunha de Marcelo Déda, Olívio Dutra, Patrus Ananias e Jaques Wagner, edulcorar a companheira foi pecado mortal. No anonimato do altar confessional, a companheirada vai lamentar ter seguido Lula, o pecador original.

Dilma caiu porque a maioria dos eleitores o desejava, porque cometeu fraude fiscal, porque parcela majoritária dos parlamentares votou pelo impeachment, porque levava rapidamente o País à bancarrota, porque era administrativamente inepta e politicamente arrogante.

Como qualquer impeachment, o de Dilma foi incomum e traumático. Foi, no entanto, constitucional e sancionado pela Corte Suprema, majoritariamente indicada pelo PT. Assim, o único mérito do discurso é ser reverberatório.

Pra mim não vale

Por fim, a ex-mandatária revela a mesma incoerência que PT e a mídia alinhada à esquerda esbanjam. Repetiu ela à Deutsche Welle que Temer, o ex-deputado Eduardo Cunha e o senador Aécio Neves foram flagrados em malfeitos.

Deveras, há mais políticos suspeitos de depenar o erário do que procuradores e juízes boquirrotos. A origem das denúncias, porém, é comum.

A Lava-Jato, e seus braços, desfere acusações contra quase todas as siglas. Ou bem valem para todos os partidos, ou são todas ineptas.

O PT, e Dilma, usam a operação policial com seletividade. Vale para os outros, não vale para os meus. Às favas a coerência.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais