Apesar de o ex-presidente Lula (PT) liderar as pesquisas de intenções de voto para as eleições de 2018, sua fragilidade jurídica e política continua crescendo. Fora o risco de ele ser condenado em segunda instância – o que o tiraria da disputa –, sua imagem ficou ainda mais abalada após as recentes revelações feitas pelo ex-ministro Antonio Palocci (PT-SP).
A estratégia de Lula baseia-se em alguns princípios. O primeiro é o de que ele precisa aglutinar sua base original: aqueles petistas e lulistas de sempre, que lhe garantiram um piso de votos importante. Para tal, Lula esconde o “Lulinha, paz e amor” de eleições anteriores e apresenta o Lula guerreiro do povo pobre do país, vítima de uma grande perseguição política engendrada por uma coalizão liderada pelo juiz Sergio Moro, pelos tucanos e o capitalismo internacional.
Na sexta-feira passada, o chanceler cubano Bruno Rodríguez Parrilla, em discurso na Assembleia Geral da ONU, disse que Lula estaria sendo vítima de uma perseguição judicial com vistas a impedir sua candidatura. Para animar a militância, o ex-presidente realizou também uma caravana pelo Nordeste, com resultados modestos. Agora, de olho no julgamento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Porto Alegre), fará uma caravana pelo Sul do país.
A narrativa de Lula apresenta sérios pontos fracos. Ele está em apuros na esfera judicial: já está condenado a nove anos e seis meses de prisão, é réu em seis processos e denunciado em outros dois. Enfim, é suspeito de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e obstrução à Justiça. É uma carga pesada.
E seus ataques à Justiça só fazem piorar sua situação. No mínimo, despertam o espírito de corpo do Judiciário. As chances de Lula ser considerado ficha-suja são grandes. Se for julgado culpado pelo TRF da 4ª Região, dificilmente escapará da inelegibilidade, ainda que recorra ao Superior Tribunal de Justiça, ao Tribunal Superior Eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal.
Ter uma candidatura pendurada na Justiça não é nada bom para agregar aliados ao largo do círculo dos fanáticos e dos militantes de sempre. Daí haver intensa mobilização no próprio PT em busca de um plano B.
A segunda fragilidade da estratégia de Lula reside no fato de que o governo Michel Temer (PMDB) começa a empreender uma recuperação econômica que poderá, lentamente, desarmar o ambiente político.
A terceira fragilidade decorre do apoio do PT à Venezuela. O país vizinho se desmancha na mídia internacional, e o PT reitera manifestações de apoio às manobras do governo venezuelano para transformar o que já era um regime autoritário em uma ditadura.
A quarta fragilidade refere-se ao fato de Lula, aqui e acolá, ameaçar a mídia com uma regulamentação. Obviamente, a ameaça é uma retaliação ao que considera perseguição da mídia burguesa. Mas ele deve lembrar que, em 2002, foi recebido – ao vivo – no “Jornal Nacional”, da TV Globo, logo após ser eleito.
No entanto, não resta muito mais a ser feito. O ex-presidente força na narrativa para animar os fanáticos e iludir os incautos. O que dizer, então? Assumir os erros? Dizer que o que ele e o PT fizeram todos fizeram também? Que política é assim mesmo?
Assim sendo, forçar uma narrativa em que se coloca como vítima de perseguição é o caminho natural. Faz parte do discurso político, no qual a verdade é a primeira vítima antes do eleitor. Infelizmente, não poderia ser diferente.