O ano de 2018 marcha para se tornar um marco na vida política do Brasil. Mesmo que a alternativa seja aprovar a continuidade do modelo que jogou o País na maior recessão de sua história.
Como o ex-ministro Pedro Malan registrou no Estadão de domingo, 14, “o ano de 2018 será absolutamente crucial para o Brasil e para seu futuro”. “Não apenas para o quadriênio 2019-2022, mas para muito além“, completou.
Desde 1985, quando os militares deixaram o poder central e os civis assumiram as rédeas do País, experimentamos avanços importantes. O mais expressivo, provavelmente, são os 33 anos de democracia ininterrupta.
Houve, ainda, avanços sociais (sobretudo na era Lula) e nos costumes (neste caso, acompanhamos as mudanças mundo afora). Aprendemos também que economia não pode ser tratada com voluntarismo (era Fernando Henrique Cardoso, principalmente).
Tudo que avançamos, tudo que retrocedemos deveu-se sobretudo aos únicos partidos brasileiros expressivos que são mais do que amontoados de interesses paroquiais: PT e PSDB. Satanizar um e outro é coisa de seguidores de seitas. Não cabe em análise distanciada.
A diferença para as demais siglas (tirante nanicos ideológicos) estriba-se em que ambos têm uma visão de Estado. Pode-se discordar, mas os irmãos siameses PT e PSDB propugnam um tipo de Brasil que pressupõem mais adequado.
PT & PSDB: protagonismo
Três aspectos, porém, deslustram as duas siglas como protagonistas de uma nova era. Primeiro, as maracutaias sistêmicas em que se meteram, jogando-as na vala comum da política patrimonialista.
Segundo, a incapacidade de pensar conforme os novos tempos – apegando-se, sobretudo o PT, a paradigmas e conceitos gestados no século XVIII. A sociedade e a economia mudaram sobremaneira, mas algumas lideranças persistem em se valer de bases históricas inaplicáveis aos dias de hoje.
Basta comparar o começo e o fim do século XX. Mudanças tecnológicas, revolução de costumes e acesso à informação deixam os extremos dos 100 anos do século passado numa distância abismal.
Terceiro, ambos têm disfunções internas de difícil saneamento. Do lado do PSDB, a incapacidade de atuar com o mínimo de unidade necessária para voltar a governar um país.
Já o PT sofre da síndrome da dependência lulista. O partido quase sempre existiu como invólucro de Luiz Inácio Lula da Silva, em que pese a extensa capilaridade social da agremiação.
Sem ele, tem sua unidade ameaçada. Com ele, abre mão de convicções remanescentes para converter-se num grupo de seguidores de “nosso guia”.
Como a história é inexorável, é com este quadro que aportaremos no limiar de um novo Brasil. As forças políticas emergentes, como os direitistas e os liberais convictos, também serão colocadas à prova.
Bobagem tentar prever o que surgirá em outubro de 2018, quando 146 milhões de eleitores terão o direito de decidir o Brasil que querem a partir de 2019. Mas é possível analisar os cenários que antecedem o pleito.
Estado mínimo ou estatizante
Entre outros aspectos, é possível antever dois como preponderantes. A ubíqua participação de Lula e o debate sobre a reforma da previdência.
O ex-retirante nordestino, por mais que queiram seus detratores, terá um papel marcante. Candidato ou cabo eleitoral. Livre ou preso.
Sua resiliência é inigualável. Compará-lo a Getúlio Vargas não é equivocado. Os dois foram os maiores líderes de massa do Brasil.
Lula, no entanto, destaca-se por um detalhe essencial. Preservou em parte sua empatia popular num regime democrático e com a imprensa livre.
Nesta quarta, 24 de janeiro, os três sufetas da 8ª turma do TRF-4 de Porto Alegre decidirão como será a participação do petista nas eleições de 2018. Não terão, porém, o condão de afastá-lo dos embates eleitorais.
Mesmo a “esquerda” que não aprova a elasticidade aliancista de Lula depende dele para manter a esperança de voltar logo ao poder. Numa democracia, não há cela que contenha sua influência eleitoral. Se é capaz de vencer outro pleito, são outros quinhentos.
Já a reforma da previdência encerra o debate temático essencial. Qual o Estado que queremos?
Enquanto a chamada esquerda entende que somente o Estado gigamenso é capaz de promover igualdade de oportunidades, distribuição de renda e equidade social, a dita direita quer um Estado enxuto visando os mesmos fins. Este dilema nos emparelha com boa parte do mundo democrático.
Até que ponto o Estado deve interferir na vida dos cidadãos? Até onde a vontade do Estado deve prevalecer sobre a liberdade individual? Quão regulada deve ser uma sociedade? Como preservar o direito de livre empreender?
Assim, o bom confronto de 2018 não deve se limitar a debater o colossal déficit fiscal que engessa as ações do Estado brasileiro, do qual a previdência é um dos propulsores. Mas de escolher entre um Estado onipresente ou um Estado mínimo. Um Estado com muitas estatais ou um Estado que se concentra em cuidar da saúde, da educação e da segurança.
A presença de Lula nas eleições de 2018 é incontornável. Salvo se for trancafiado numa solitária das assépticas penitenciárias federais.
Já o Brasil que os eleitores querem para o porvir é o debate essencial que irá definir nosso rumo. Se vamos continuar na pasmaceira dos recorrentes voos de galinha ou partiremos para um País onde o crescimento econômico e o desenvolvimento social será o padrão, não a exceção.
* Itamar Garcez é jornalista