Julgamento de Lula e Previdência


Dois eventos no início de 2018 terão forte impacto na sucessão presidencial. O primeiro é o julgamento do ex-presidente Lula por parte do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, agendado para 24 de fevereiro. O segundo é a expectativa de votação da Reforma da Previdência.

Quanto ao julgamento do ex-presidente, espera-se uma longa batalha jurídica, tanto na esfera criminal quanto na eleitoral. Se condenado, o presidente ainda pode lançar mão de vários recursos. Mas, eleitoralmente, o espaço fica mais restrito.

Um ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral consultado pela Arko Advice avalia que o ex-presidente pode até conseguir registrar sua candidatura e fazer campanha. Mas ele acredita que Lula terá seu registro cassado, obrigando o PT a escolher outro candidato. Com Lula no páreo, a eleição é uma. Sem ele, ela fica completamente diferente, tendendo a ter um maior número de candidatos.

A Reforma da Previdência é outro fator determinante. Caso seja aprovada, espera-se uma melhora da economia, fortalecendo o candidato apoiado pelo governo. Se não for votada, a recuperação será mais lenta e o mercado tenderá a ficar mais volátil, ao sabor das pesquisas de opinião e do posicionamento dos candidatos em relação ao tema.

Adiamento para fevereiro reduz chances da Previdência

De acordo com o cronograma anunciado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), as discussões em torno da Reforma da Previdência começarão no dia 5 de fevereiro e o início do processo de votação ocorrerá a partir do dia 19 do mesmo mês. O adiamento aumenta os desafios para o governo e reduz as chances de sua aprovação.

O primeiro desafio é a proximidade com as eleições de 2018. Se já havia forte preocupação dos deputados em votar matéria tão polêmica em ano anterior a ano de eleições, em ano eleitoral essa preocupação será ainda maior.

O primeiro vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), chegou a afirmar: “Esqueça Previdência para o próximo ano. Se não consegue este ano, imagine no próximo, que é ano eleitoral.” Nessa mesma linha, o líder do PR, deputado José Rocha (BA) declarou: “Esqueça Previdência em ano eleitoral.” O deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), avaliou que “agora só haverá um clima igual a esse [a favor da reforma] no pós-eleição”.

Como consequência, o cronograma ficou ainda mais apertado. Mesmo marcada a votação para o dia 19 de fevereiro, dificilmente ela acontecerá nessa semana, devendo ficar para a semana seguinte. Em segundo lugar, o recesso resultará em natural desmobilização da base aliada. O trabalho terá que ser retomado no próximo ano, o que consumirá ainda mais tempo.

Cronograma eleitoral afeta negociação

O cronograma eleitoral é outro fator de dificuldade. A partir de março será aberta a “janela” para que deputados possam trocar de partido sem risco de perda de mandatos. Será, portanto, um mês de articulações políticas. Alguns partidos, incluindo o PSDB, realizam prévias para decidir seus candidatos entre março e abril. E, em abril, haverá intensa troca de comando em postos-chave nos governos federal, estadual e municipal.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), afirmou que decidirá em abril se será candidato à Presidência. Cerca de outros 17 ministros pretendem concorrer a algum cargo eletivo em 2018. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), deixará o posto para se candidatar à Presidência da República.

Há, portanto, um conjunto de fatores envolvendo o processo eleitoral que potencialmente atrapalha as negociações em torno da Reforma da Previdência. Por essa razão, reduzimos a chance de sua aprovação na Câmara de 45% para 30%.

Dois fatores podem contribuir para o andamento da reforma: novas concessões no sentido de amenizar ainda mais o texto; e o fechamento de questão de outras legendas. Até o momento, apenas PMDB, PTB, PPS e PSDB o fizeram. O DEM decide no dia 6 de janeiro.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais