Fogueira política em Brasília


Para saber mais sobre a crise política, leia:
RECALL À BRASILEIRA – Marcos Queiroz
TIROTEIO FINAL – André Gustavo
NÃO HÁ FAVORITOS PARA 2018 – Carlos Bellini

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São tempos de festas juninas e de início de seca em Brasília. Mas a fogueira política que arde em torno do governo é, de longe, a mais intensa. A viagem presidencial à Rússia, que poderia ter dado alguma tranquilidade ao país, não funcionou. O presidente Michel Temer voltou de Moscou mais frágil. Em especial, pela queda da popularidade apurada pela pesquisa Datafolha e pelo laudo emitido pela Polícia Federal, apontando a não existência de edições na fita gravada clandestinamente pelo empresário Joesley Batista, da JBS, durante conversa com o presidente.

Porém, dadas as questões estruturais da política nacional, o desfecho da crise não é imediato nem certo. Sem fatos novos o governo não cai. São muitas as agendas, e há consenso de menos para que surja uma solução no âmbito da base política. O governo ganha sobrevida e a chance de superar a crise, principalmente, se atuar em duas frentes essenciais: no Congresso e na comunicação.

A presença do PSDB na base governista é crítica.

Ainda que o ex-presidente FHC peça que o presidente renuncie, uma maioria apertada dos tucanos prefere que ele fique no Planalto, de acordo com pesquisa feita entre filiados ao partido na última semana. O movimento “Fora, Temer” continua limitado a setores da classe artística e sem suporte mobilizado na sociedade. As elites permanecem divididas sobre a saída de Temer do governo. Já o empresariado sindicalizado expressa apoio a Temer, conforme declaração do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

Fatiado ou em bloco, o pedido de investigação do presidente Temer feito pela PGR ao STF será rejeitado pela Câmara. Apenas fatos novos – padrão Sérgio Cabral – mudarão o cenário. A forma como o procurador geral da República, Rodrigo Janot, tem conduzido o processo contra o presidente gera resistências no Congresso.

No limite, o laudo da Polícia Federal sobre a gravação de Joesley amplia a fragilidade do governo, mas não muda fundamentalmente o quadro. Os termos do acordo de delação do empresário irritaram sobremaneira o mundo político, que (ainda) entende a presença de Temer como um fator de proteção.

O risco das delações

No curto prazo, o futuro do governo Temer depende do que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial do presidente, falará ou não sobre o destino do dinheiro que recolheu durante ação filmada pela polícia. Suas condições na prisão podem indicar uma estratégia para fragilizá-lo. Para o governo, o ideal é que Rocha Loures diga que a operação foi de sua exclusiva responsabilidade e que não resultou, como de fato, em nada prático.

As delações do doleiro Lúcio Funaro e/ou do ex-deputado Eduardo Cunha só matarão o governo se atingirem atos recentes do presidente, ou seja, durante seu mandato. Questões anteriores apenas serão consideradas graves se tiverem padrão Sérgio Cabral de corrupção e criarem constrangimento moral insuperável. Questões como caixa 2 e caixa 3 para campanhas eleitorais do passado (ainda) não são suficientes para derrubar o governo.

Reformas

Por outro lado, o andamento das reformas está sendo ameaçado. Não há clima para votar a reforma da Previdência em curto prazo sem resolver a questão Temer-STF na Câmara. No entanto, mantemos nosso prognóstico de que a reforma trabalhista deve ser aprovada no Senado.

Enfim, fatos novos ainda são relevantes para definir o futuro imediato do governo.

Publicado n’O Tempo em 28/06/2017

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