Eleições presidenciais


É sempre difícil acreditar em promessa de político. Sobretudo no Brasil. O grupo que anda pregando a solução intermediária entre o volta Dilma e o fora Temer pretende que seja realizada eleição presidencial em outubro próximo. É a fórmula perfeita para não se comprometer com um lado ou outro e causar um mal irreversível ao país. A classe política está destroçada, os partidos liquidados, as lideranças perplexas e o povo procura uma saída. Realizar eleições neste quadro significa provocar o imprevisível.

O Brasil já passou pela experiência de Jânio Quadros, cujo símbolo era uma vassoura. Ele pretendia limpar o país dos ladrões, dos ineficientes e dos corruptos. Sua aventura durou sete meses, período no qual ele concedeu a Ordem do Cruzeiro do Sul a Ernesto Che Guevara, proibiu briga de galo, e o biquíni, entre outras medidas de estadista. Seu último lance, o mais grotesco, foi renunciar ao próprio mandato na esperança de que o povo fosse até seu refúgio em São Paulo para governar com poderes ditatoriais. O povo não apareceu e ele embarcou em navio mercante com destino a Europa.

Outra aventura importante foi a de Fernando Collor. Ele foi eleito logo após a realização da Assembleia Constituinte, numa eleição solteira, ou seja, realizada sem que houvesse escolha de qualquer outra função. Estava em disputa apenas o cargo de Presidente da República. A geração que comandara a redemocratização estava perto do fim. E os novos nomes ainda não haviam surgido. Collor prometeu cassar marajás, acabar com privilégios. Logo após a posse, confiscou a poupança dos brasileiros com objetivo de acabar com a inflação. Não conseguiu. Foi processado e sofreu o impeachment.

Depois dele, o governo Itamar Franco tateou em busca de soluções. Teve contra ele a oposição dos petistas, mas encontrou as brechas para conseguir reorganizar o país. Depois de quatro ministros da Fazenda, o presidente concentrou-se na escolha de Fernando Henrique Cardoso que era o Ministro das Relações Exteriores. FHC não gostava muito da ideia. Mas terminou concordando. Chamou um grupo de economistas de primeira linha e produziu o Plano Real, que estabilizou a inflação, criou nova moeda e solucionou os problemas da dívida externa. A solução, portanto, estava diante do nariz dos políticos. Naquela época, também houve quem defendesse a realização de eleições presidenciais.

A atual situação é tão controvertida que até mesmo os defensores de Dilma Rousseff defendem que, se e quando ela for reconduzida, seja convocado um plebiscito nacional para reconfirma-la no cargo. Ou seja, até os petistas admitem que a presidente afastada perdeu as condições para governar. Precisa buscar a benção popular. O governo dela foi absoluta e totalmente desastroso em matéria de política econômica. E o que as pessoas querem, agora, é que o país volte a crescer. Essa é a chave da governabilidade.

Realizar eleições presidenciais agora implica, em primeiro lugar, que Dilma e Temer renunciem a seus cargos. Depois entregar o país ao desespero da busca de uma solução imediata, rápida e efetiva. Este é o terreno fértil para o surgimento do salvador da pátria, exemplo dos nomes já referidos. Nenhum deles conseguiu cumprir seu mandato porque as promessas eram frágeis, de difícil execução e sem o devido apoio no Congresso Nacional. A presidente Dilma não conseguiu apoio no parlamento, porque não conhece e não gosta de política. Naufragou.

Há um lado esperto nesta postura. Uns e outros julgam estar enxergando à frente. Os principais nomes da política brasileira estão envolvidos nas investigações da lava-jato. Poucos deles, ou nenhum deles, teria condições de se candidatar agora a presidência da República. Seria, então, uma disputa entre pessoas menos conhecidas ou políticos de segunda linha, que julgam ter discurso capaz de entusiasmar as multidões. Isso se chama namorar o desastre. Mas, os políticos não se comovem com os riscos. Eles morrem várias vezes. Então vale a pena jogar mais combustível na fogueira nacional.

Os partidos estão destroçados. Boa parte da liderança nacional do PT está na prisão ou a caminho dela. Os nomes fortes do PMDB também estão contra a parede. E até a esposa do presidente afastado da Câmara dos Deputados foi transformada em ré em processo que apura desvio de dinheiro público. E o ápice do processo autofágico fez com que a Polícia Federal prendesse o carcereiro. O famoso japonês da Federal. Não está sobrando ninguém. Se o presidente Temer conseguir levar o governo até o final de 2018 terá realizado uma proeza impressionante.

 

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